Há muitas definições da Igreja de Deus. Algumas são boas, outras inadequadas. Neste estudo vamos considerar como o apóstolo Paulo tratou sobre a Igreja, e como ele nos deu uma definição clara. O texto para o nosso estudo é 1 Timóteo 3.15.
Nos capítulos 1 e 2 desta carta, o apóstolo Paulo deu várias ordens e regulamentos que o jovem pastor da igreja de Éfeso devia executar no ministério da igreja local – e Paulo tinha muito mais a dizer ao pastor Timóteo sobre este assunto nos capítulos seguintes. No versículo quinze do terceiro capítulo, porém, Paulo fez uma breve pausa. É como se ele estivesse pensando se tudo o que já tinha dito, e o que ainda tinha a recomendar, seria prontamente aceitado pela igreja, ou mesmo se Timóteo estaria disposto a tanto. Aliás, obreiros como Himineu e Alexandre já haviam sido resistentes ao que Paulo dissera. Paulo porém sabia que mesmo sendo difíceis de cumprir, suas ordens eram indispensáveis à igreja liderada por Timoteo.
A importância destas ordens e regulamentos vêm da própria relevância da igreja local. Por que o ministro e a Igreja devem batalhar contra as doutrinas falsas que tentam entrar dentro da Igreja? A resposta está em 1 Timóteo 1.3-7,18. Por que a Igreja deve lutar contra o pecado diariamente pedindo a misericórdia e a graça de Deus? Paulo explica em 1 Timóteo 1.12-16. Por que os membros do ministério da Igreja devem manter vidas exemplares tanto morais como espirituais? Os motivos estão em 1 Timóteo 3.1-13. Obviamente, estes regulamentos que o apóstolo deu a Timóteo exigem muito trabalho, trazendo àquele jovem pastor uma responsabilidade muito grande.
Por que o pastor e a Igreja devem manifestar estas qualidades?
A resposta se acha naquilo que a Igreja é. A Igreja é muito mais do que uma organização legal. Não, a Igreja não é um clube. A Igreja não existe somente para o benefício dos seus membros. O texto que estamos analisando oferece três definições da Igreja dadas por Paulo a Timóteo. Estas as definições nos ajudarão a entender a importância da Igreja, bem como a nossa responsabilidade como ministros e membros do corpo de Cristo.
Em primeiro lugar, Paulo trata a Igreja como a Casa de Deus
A palavra casa (oikos) não significa um prédio ou um edifício, mas, sim, as pessoas que têm um relacionamento familiar. Nesta passagem, Paulo está claramente retomando o argumento de 1 Timóteo 3.4,5,12, no qual oikos significa lar ou família. Existe uma relação que une todos os crentes sob a paternidade de Deus. Somos membros da mesma família, a família de Deus (Gálatas 6.10; Efésios 2.19; 2 Timóteo 1.16; Tito 1.11).
As grandes promessas do Antigo Testamento sobre a presença constante de Deus com o Seu povo (Gênesis 28.13-17, Êx 29.42-46) estão cumpridas no Novo Testamento. Sim, somos membros da família de Deus com a presença constante do Deus-Pai. Os nossos cultos, as nossas reuniões, são cultos familiares, reuniões da família na presença do Pai (1 Coríntios 3.16, 6.19; 2 Coríntios 6.16). Como Gordon Fee notou: “Esta metáfora da casa (família) já insinuada em 1 Timóteo 3.4,5 flui naturalmente do reconhecimento de Deus como Pai, os crentes como irmãos, e os apóstolos como ‘mordomos’ (administradores da casa).”
Em segundo lugar, Paulo usa a expressão A Igreja do Deus Vivo
Existem duas verdades muito importantes nesta expressão. A primeira está achada na palavra igreja (eklésia). A verdade que achamos nesta palavra é que a eklésia compõe-se de pessoas que responderam ao gracioso convite de Deus para sair da comunidade em que estavam e entrar em outra onde a comunhão é permanente. Depois disso, agora convertidos e transformados, os crentes são chamados para fazer contato com as pessoas da velha comunidade e levá-las a juntar-se com eles na nova comunidade, que é a Igreja. Este é um dos propósitos essenciais da Igreja. A Igreja, portanto, não foi feita para uso exclusivo de um grupo especial. Ela não existe somente para nos beneficiar, mas, para que possamos beneficiar o mundo com a mensagem da salvação em Cristo (Mateus 5.13,16).
A segunda verdade achamos na expressão da Igreja como a Igreja do Deus Vivo. Nestas palavras, o apóstolo colocou um grande contraste entre a Igreja de Deus, que na época não tinha seus próprios edifícios, e os templos pagãos construídos para honrar deuses feitos de madeira, pedra ou ouro que não ouvem, não enxergam e não falam. Ídolos feitos pelas mãos de homens, falsos deus que não amam (Salmo 115.4-8). O nosso Deus , porém, é o Deus Vivo! ( Medite em Êxodo 3.7; Salmo 34.15-19, 42.2, 139.1-23; Jeremias 10.10; Mateus 16.16; 1 Tessalonicenses 1.19; Apocalipse 1.17,18). ORa, Paulo freqüentemente descreve Deus como sendo vivo (4.10; 2 Coríntios 3.3, 6.16; 1 Tessalonicenses 1.9).
Finalmente, Paulo falou da Igreja como a coluna da firmeza e da verdade. Podemos imaginar quantos daqueles que ouviram Timóteo ler esta carta à igreja em Éfeso eram antes seguidores de Diana dos Efésios. Podemos imaginar quantos teriam caminhado com orgulho através do templo que dominava o horizonte de Éfeso. Como teriam ficado maravilhados pela imponente estrutura de 120 colunas! Colunas de mármore, de jóias. Colunas revestidas de ouro puro. Talvez os adeptos de Diana e os visitantes daquele templo luxuoso pensavam nas fundações que eram necessárias para a estabilidade do edifício. Realmente, um eprédio como aquele precisava de uma fundação ampla e profunda para evitar um colapso. Os cidadãos de Éfeso tinham orgulho daquela construção. Ela era um ponto turístico e de peregrinação na Ásia Menor e no Oriente. As igrejas apostólicas, por seu turno, não tinham qualquer coluna semelhante àquelas; de fato, nem templo elas tinham. Mesmo assim, existe na Igreja uma coluna mais preciosa que qualquer outra. Pergunte-se onde está o templo da Diana dos Efésios? Só podemos falar sobre ele no passado, mas da Igreja de Cristo nós falamos no tempo presente.
A firmeza da Igreja está baseada no fato de que ela mesma é a coluna e o esteio, o baluarte da verdade. A firmeza da verdade deve ser achada na Igreja. O apóstolo Paulo não disse que a Igreja tinha uma coluna e uma fundação. O que o Espírito Santo disse por seu itermédio é que a Igreja é a mesma coluna e a mesma fundação da verdade. A única preocupação de Paulo é de enfatizar que os membros de cada comunidade local devem ser um baluarte forte do evangelho contra os assaltos dos falsos mestres.
Conclusão
As Cartas Pastorais nos ensinam que a nossa responsabilidade é guardar a verdade, pregar a verdade e viver a verdade (1 Timóteo 1.3-4, 4.1-11; 2 Timóteo 3.1-14, 4.1-5; Tito 1.9, 2.1). A responsabilidade da igreja local era óbvia. Gordon Fee comentou: “A verdade foi confiada à igreja; a coduta dos falsos mestres equivale ao abandono da verdade. Daí ser extremamente importante que Timóteo não so-mente contenha os falsos mestres (1.3-11), mas leve as pessoas de volta à verdade”. Mas, afinal, o que é a Igreja?
A Igreja é a família do Deus Vivo, chamada para ter comunhão com Ele e para cumprir o propósito de guardar, pregar e viver a verdade do Evangelho.
PAUL FRANCIS PORTA