Raizes Pentecostais

Por Pr. Claudionor de Andrade
Conselheiro Bíblico da EETAD e das Edições Bernhard Jonhson

Os desafetos da Assembleia de Deus no Brasil dizem, entre outras imprecisões, que somos um movimento à procura de uma teologia. Na verdade, somos uma igreja cuja excelência bíblica, doutrinária e histórica não pode ser contestada. Por esta razão, hei de protestar sempre contra semelhantes ataques, porquanto nossos opositores (não gostaria de chamá-los de inimigos) jamais se deram ao trabalho de, ao menos, examinar nossos alicerces doutrinários à luz da Bíblia Sagrada, nossa única regra infalível de fé e prática.

Além disto, os fundamentos bíblicos, que nos sustentam a peregrinação rumo à Jerusalém Celeste, acham-se mui patenteados em nosso Credo, Declaração de Fé e no farto material que, desde a nossa fundação oficial, em 18 de junho de 1911, vimos produzindo sob a iluminação do Espírito Santo. Aliás, nossas revistas de Escola Bíblica Dominical são reconhecidas, ainda, não apenas por sua didática, mas notadamente por sua biblicidade. Quanto às heresias que brotam, em nossos redis, repelimo-las através do exercício da Sã Doutrina. 

Destacamos, a propósito, que um de nossos país-fundadores, Daniel Berg (1884-1963), era um esforçado e notório colportor da Bíblia Sagrada. Enquanto evangelizava, distribuía exemplares das Escrituras, nas regiões mais distantes e ignoradas de nossa pátria.

Conquanto ainda bíblicos, já faz algumas décadas que, sem o percebermos, começamos a perder essa tão sublime excelência apostólica: a biblicidade que, desde o nosso estabelecimento, caracteriza-nos como povo de Deus e Igreja de Jesus Cristo, nosso amado Redentor. A cada dia, a situação torna-se mais urgente e clamorosa. Assim sendo, temos de voltar de imediato à Palavra de Deus e ao Deus da Palavra. Comecemos, então, por definir dogmaticamente as Santas Escrituras.  

A urgência de uma definição correta da Bíblia Sagrada

A Bíblia Sagrada não é um simples ou mero livro. A Sagrada Bíblia é a inspirada, inerrante, infalível, completa, suficiente, soberana, perfeita, inteiramente clara e inteligível, sempre atual e eterna Palavra de Deus. Ao contrário do que ensinam os liberais, ela não se limita a conter a Palavra de Deus. Antes, ela é comprovada e mui assertivamente a Palavra do Deus Único, Vivo e Verdadeiro. E, contraditando o que lecionam os neo-ortodoxos, a Bíblia não se torna a Palavra de Deus à medida que alguém, ao lê-la, tem um encontro com o Senhor Jesus. Quer isto aconteça, quer não, ela é e continuará a ser, eternamente, a sublime e única Palavra de Deus.

Isto posto, não aceitaremos as definições que nos querem empurrar a academia pós-moderna e os seminários que, afinando-se pelo método histórico-crítico, já não têm a Bíblia Sagrada como a palavra viva e eficaz de Deus, conforme descrita na Epístola aos Hebreus capítulo 4 e verso 12. 

Se já sabemos, pois, como definir biblicamente a Bíblia Sagrada, empenhemo-nos por tornar nossos púlpitos, outra vez, genuinamente bíblicos.

A urgência de um púlpito bíblico

Esdras, o notável doutor da Lei Divina, sabia que, somente a partir de um púlpito bíblico e corajoso, poderia levar os egressos do cativeiro babilônico a uma profunda conversão ao Deus de Israel. À vista disto, o nobilíssimo sacerdote subiu a uma plataforma de madeira, a fim de proclamar a Palavra de Deus, segundo o fiel registro do texto sagrado:

“E Esdras, o escriba, estava sobre um púlpito de madeira, que fizeram para aquele fim; e estavam em pé junto a ele, à sua mão direita, Matitias, e Sema, e Anaías, e Urias, e Hilquias, e Maaseias; e à sua mão esquerda, Pedaías, e Misael, e Malquias, e Hasum, e Hasbadana, e Zacarias, e Mesulão. E Esdras abriu o livro perante os olhos de todo o povo; porque estava acima de todo o povo; e, abrindo-o ele, todo o povo se pôs em pé” (Ne 8.4,5).

Assim, num púlpito verdadeiramente bíblico, Esdras conduziu o seu povo a um notável avivamento espiritual, naquele desafiador e angustiante século 5º antes do nascimento de Jesus Cristo, o Eterno Filho de Deus.

Se almejamos verdadeiramente biblicizar nossos púlpitos, a exemplo do que fizeram nossos pais-fundadores, tomemos as seguintes medidas com urgência, ardor e máxima coragem.

Em primeiro lugar, atenhamo-nos exclusivamente à Mensagem da Cruz, como fez o irmão Paulo ao evangelizar os coríntios: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2). Logo, purguemos nossos púlpitos de modismos e tralhas como as teologias progressista, da prosperidade e a do coaching; purguemo-los igualmente da confissão positiva, da autoajuda e de outras misérias urdidas no Inferno.

Outrossim, ouçamos a exortação do santo apóstolo: “Tu, porém, fala o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1). Se de fato estamos cientes de que já estamos na última hora de nossa jornada terrena, que os obreiros do Senhor pastoreemos suas ovelhas e cordeirinhos, tendo por alicerce a Sã Doutrina das Escrituras Sagradas. Alimentemos os redimidos com os ensinos autênticos da Palavra de Deus. Realcemos sem demora a santificação bíblica, porquanto sem esta ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). Além disto, alertemos os fiéis com respeito ao Arrebatamento da Igreja, como o próprio Cordeiro adverte-nos: “Certamente, cedo venho” (Ap 22.20).

E, por fim, tenhamos como parâmetro a ação apostólica do doutor dos gentios, junto aos anciãos de Éfeso: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos; porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20.26,27). Portanto, ensinemos integralmente a Bíblia Sagrada ao rebanho que nos confiou o Sumo Pastor. Ministremos-lhe ambos os Testamentos, todos os seus livros e repassemos-lhe todos os seus capítulos e versículos, porque toda ela é indispensável aos santos do Cordeiro. Mas, para que isto ocorra, é urgente que nos empenhemos por um ministério genuinamente bíblico.

A urgência de um ministério genuinamente bíblico

A fim de que a Bíblia Sagrada seja ensinada de maneira genuína à Igreja de Cristo, faz-se urgente que tenhamos um ministério também genuíno, de conformidade com as exigências do Cristo da Igreja. Deste modo, não sejamos precipitados na ordenação de obreiros. Ouçamos o apóstolo: “A ninguém imponhas precipitadamente as mãos, nem participes dos pecados alheios; conserva-te a ti mesmo puro” (1Tm 5.21,22). 

Que cada uma de nossas ordenações seja precedida pela voz do Preceptor Divino, segundo o proceder da Igreja Apostólica: “E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado. Então, jejuando, e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram” (At 13.2,3).

E que nossos pastores, evangelistas, presbíteros e diáconos sejam escolhidos, sempre, mediante este rigoroso e mui necessário critério estabelecido pelos apóstolos e anciãos da igreja em Jerusalém: “Escolhei, pois, irmãos, dentre vós, sete varões de boa reputação, cheios do Espírito Santo” (At 6.3).

Além disto, requer-se de todos eles, obrigatoriamente, o batismo com o Espírito Santo, cuja evidência inicial não mudou; continua a ser o falar noutras línguas, de acordo com o registro sagrado: “E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2:4). Que nenhum deles, por fim, seja faltoso no que tange às exigências espirituais, morais e pessoais mencionadas pelo irmão Paulo na Primeira Epístola a Timóteo, capítulo três.

Sendo os membros do Santo Ministério selecionados a partir das reivindicações da Bíblia Sagrada, nossos ministérios serão mais sadios, nossas convenções, mais fraternais e santas e, acima de tudo, nossas igrejas hão de ser pastoreadas de conformidade com o modelo, que encontramos em Jesus Cristo, nosso amado Sumo Pastor (1Pe 5.4). Que nossos rebanhos e redis, pois, sejam apascentados de acordo com a Palavra de Deus, e não segundo modelos empresariais, seculares e mundanos. Mas, para que isto ocorra, é mister e urgentíssimo que nossos seminários sejam genuinamente bíblicos.

A urgência de seminários genuinamente bíblicos

Tenhamos sempre em mente esta proposição que jamais deixou de ser bíblica: a verdadeira teologia – bíblica, apostólica e evangélica – tem de ser feita no âmbito da Igreja de Cristo, sob a supervisão dos homens que o próprio Deus chamou ao Ministério da Palavra, consoante ao que escreve o santo apóstolo: 

“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo,  para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente” (Ef 4.11-14).

Assim sendo, que os nossos seminários, a partir de agora genuinamente bíblicos, prestem contas à Igreja de Cristo e não a uma repartição governamental, como o MEC. Que sejam livres do mundo e algemados ao Cordeiro de Deus. Afinal, nossos educandários também fazem parte da Igreja.

Outrossim, que nossas instituições de ensino teológico usem, na interpretação da Bíblia Sagrada, a chave hermenêutica utilizada por Nosso Senhor, conforme o registro mui cuidadoso de Lucas: “E, começando por Moisés e por todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras” (Lc 24.27). Vê-se, pois, claramente que Jesus interpretava a Bíblia Sagrada através da própria Sagrada Bíblia. Dito isto, execremos de nossos seminários e gabinetes de estudo o método histórico-crítico, cujo único objetivo é enfraquecer e destruir o Texto Sagrado.

Ademais, tenhamos precaução com a falácia dos que ensinam que a chave hermenêutica da Bíblia é Jesus. Na verdade, o que pretendem os tais mestres e doutores, com essa dialética nociva, é contrapor Cristo aos santos profetas e apóstolos, como se, na Palavra de Deus, houvesse disputas e contradições. Conforme já vimos, a chave exegética utilizada (e, também, exemplificada e recomendada), por Jesus, é precisamente esta: na interpretação da Bíblia, usemos a própria Bíblia, porquanto a Bíblia autointerpreta-se. 

Nesta peleja, instemos junto às sociedades bíblicas, para que, cientes de sua missão, esmerem-se em traduções e revisões da Bíblia Sagrada genuinamente bíblicas. Menos que isto é inaceitável. 

A urgência de traduções e revisões da Bíblia Sagrada genuinamente bíblicas

Tendo em vista que a teologia genuinamente bíblica tem de ser feita no âmbito da Igreja de Cristo, igual critério precisa ser aplicado às traduções, versões e atualizações das Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos. Aliás, respeitante ao Texto Sagrado requer-se ainda mais critério, prudência e vigilância, porquanto estamos a tratar com a Palavra do Deus Único, Vivo e Verdadeiro.

O processo de tradução da Bíblia Sagrada não é uma atividade meramente acadêmica, nem pode ser feita sem a supervisão da Igreja de Cristo. Por conseguinte, aparelhemo-nos, a fim de acompanhar os trabalhos das instituições encarregadas de traduzir, verter e atualizar linguisticamente as Escrituras. Doutra forma, corremos o risco de ter um texto que, desconstruído e adulterado, acarretará sérios prejuízos à Sã Doutrina e à Santíssima Fé. 

Estejamos mui vigilantes, porquanto o maior projeto de Satanás é destruir por completo a Bíblia Sagrada, a inspirada, inerrante, infalível, completa, suficiente, soberana, perfeita, inteligível, sempre atual e eterna Palavra de Deus. Enfim, sem a Palavra de Deus, não poderemos continuar a nossa peregrinação à Jerusalém Celeste, onde o Amado Esposo aguarda-nos.

A urgência de uma peregrinação genuinamente bíblica à Jerusalém Celeste

Uma vez mais, ouçamos a exortação do santo apóstolo: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem” (Hb 12.14,15).

 Não tarda o dia em que, ao completarmos a peregrinação terrena, iniciaremos a fase eternal de nossa existência, junto ao Cordeiro de Deus. Até lá, sejamos piedosos e santos, conforme recomenda-nos a Palavra de Deus.

Que os nossos usos e costumes sejam bíblicos, sadios e louváveis diante de Deus e perante os homens. Conscientizemo-nos de que é necessário, e possível, termos uma vida santa e modelar, conforme exige-nos a Bíblia Sagrada.

Voltemos à Palavra de Deus. Leiamo-la cotidianamente. Pratiquemo-la em nosso dia a dia.

Que a Igreja de Cristo peregrine sempre em consonância com os santos profetas e apóstolos de Nosso Senhor. A Bíblia Sagrada é soberana, porquanto ela é a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.