Por Pr. Alex Esteves1
Professor da EETAD e autor das Edições Bernhard Johnson

Soberana e altissonantemente, a Palavra de Deus declara a sua origem, natureza, propósito e valor. O atestado de autenticidade reveste-se de crédito inafastável porque emitido pelo próprio Autor, o Espírito Santo.
De Gênesis a Apocalipse, de variadas maneiras, a Escritura manifesta a superioridade incontrastável, inerente ao único Livro verdadeiramente sagrado, divinamente inspirado, inerrante, infalível, autoritativo, suficiente, perfeito, absoluto, verdadeiro, compreensível, sempre atual, eterno e apto para salvar.
Em reiteradas afirmações do seu status, a Bíblia posta-se em alturas humanamente insondáveis, ao mesmo tempo em que, tal como o Verbo de Deus, paira entre os mortais de forma contextualizada, “encarnada” na linguagem dos homens.
Na categoria dos enunciados que, de modo explícito, apontam para a Escritura quanto à sua procedência, caráter, finalidade e glória estão os 176 versos do Salmo 119, que, reunidos em 22 seções, veem suas frases iniciadas, em ordem, por todas as letras do alfabeto hebraico. Ergue-se dessa forma o belíssimo poema a que, com toda justiça, se pode nominar “o Salmo da Palavra”. Irmana-se, nesse aspecto, com os demais acrósticos bíblicos, que se acham repousados nas seguintes passagens: Salmos 25, 34, 37, 111, 112 e 145; Pv 31.10-31 ; Lm 1-4 (excetua-se apenas o cap. 5) .
Exemplar da formidável literatura sapiencial, o Salmo 119 aponta para o fundamento da verdadeira sabedoria; ensina que não existe felicidade genuína sem Deus; apresenta os frutos de uma vida obediente às Escrituras; e lida com o contraste entre o justo e o ímpio.
É assim que, na trilha de petições, declarações de fé, apelos morais, piedosas deprecações e relatos da experiência pessoal, o salmista tece, com fios de repetições, paralelismos e figuras de linguagem, a costura de uma formidável declaração de amor à Palavra de Deus.
Trata-se de uma oração, afora os enunciados dos vv. 1-3 e 115. Não por acaso, ressalta-se no texto elevada carga emocional, característica dos Salmos, como que a informar ao leitor qual a resposta adequada ao conteúdo das Escrituras Sagradas.
Todos os versos do Sl 119 citam algum substantivo para designar a Palavra do SENHOR, o que não ocorre somente nos vv. 90, 122 e 132 . A recorrente sinonímia dedicada à Palavra de Deus carrega um repertório de substantivos que descrevem o colorido dos seus benefícios: “lei”; “testemunhos”; “mandamentos”; “estatutos”; “preceitos”; “juízos”; “caminhos”; “veredas”; “palavra”; e “promessa”, que pode vir simplesmente como uma nova ocorrência do termo “palavra”, mas denotando algo que foi prometido ou declarado.
Os vários substantivos que se revezam no Salmo 119 aludem a diversos aspectos fundamentais: revelação, instrução, pronunciamento, orientação, encaminhamento, decisão, ordenação, regulamento.
É possível verificar aqui um reflexo do Sl 19.7-9. Note-se, ainda, a estreita relação com os substantivos presentes no discurso de Davi a Salomão, em 1 Rs 2.3, 4. Esses exemplos apontam para um aspecto fundamental no Salmo 119: por meio de referência a outras partes das Escrituras, ou a suas características, o poema erige uma reverência à Palavra do SENHOR.
Como se observa das linhas do Salmo da Palavra, as Escrituras são dadas ao crente para leitura, estudo, interpretação, meditação, aprendizado, louvor, obediência e proclamação. Elas produzem retidão moral, comunhão espiritual, pureza, santidade, fortalecimento, conforto, devoção, oração e convicções.
De Álefe a Tau
Algumas edições bíblicas indicam a sequência das letras que correspondem às estrofes do Salmo 119, e atentar para essa correlação constitui um exercício proveitoso, não somente do ponto de vista estético e literário, mas também porque tal ingrediente auxilia na recordação de que a totalidade da vida pertence a Deus, e a Ele deve ser devotada (Diferentemente do que comumente se pensa, a letra álefe não corresponde à letra “a”, é uma consoante [como todas as letras do alfabeto hebraico] e não possui nenhum som. Quando o Salmo 119 elogia a Palavra de Deus “de álefe a tau”, é como se o fizesse “de A a Z”, em nosso idioma, porque o preenchimento de todo o alfabeto sugere a noção de totalidade).
Feitas essas considerações, vejamos um esquema simples de como o Salmo 119 se acha organizado, de acordo com ênfases e expressões especiais a cada estrofe :
Caminhos retos (1-8): Bem-aventuranças encimam o Salmo da Palavra, anunciando que há recompensa para os que trilham caminhos retos e andam na lei do SENHOR, guardam os seus testemunhos e o buscam de todo o coração, não praticando a iniquidade, mas andando em seus caminhos (vv. 1-3). O substantivo “caminhos” aparece indicando tanto o procedimento da pessoa (vv. 1 e 5) como as orientações consantes da Palavra do SENHOR (v. 3). A comunicação divina fornecida pelas Escrituras endireita o procedimento daquele que as observa, o que se expressa pela ilustração do “andar” ou “caminhar” (cf. Gn 17.1; 2 Cr 6.14). Em diversas passagens a Bíblia emprega a mesma figura: nem todo caminho do Homem é direito (cf. Pv 14.12); devemos andar no Espírito, de modo digno da vocação cristã (cf. Rm 8.1, 4; Gl 5.16; Ef 4.1); o pecado da geração de Noé vem representada como um caminho que se corrompeu (cf. Gn 6.12). A fórmula “de todo o coração” exprime a integralidade do compromisso que Deus espera (cf. vv. 10, 34, 58, 69 e 145), e mostra que a lealdade requerida por Ele sempre foi endógena, e não exógena. O salmista afirma que não será “confundido” se atentar para os mandamentos divinos, o que traz a ideia de observar (cf. Tg 1.25).
Escondi a tua palavra (9-16): Surge uma pergunta didática sobre a maneira pela qual o jovem purificará o seu caminho: a resposta consiste em observá-lo “conforme a tua palavra” (v. 9). Já no v. 11, o vocábulo traduzido por “palavra” tem o sentido de promessa. O salmista escondeu a palavra, não como quem a oculta em relicários, mas como quem sabe que lida com um tesouro a ser recorrentemente buscado (cf. Jó 23.12; Mt 13.52). Bendizer a Deus é uma recomendada decorrência espiritual do contato com a revelação (v. 12), e a declaração referida no v. 13 obedece à determinação prevista em Dt 6.6, 7, atinente à divulgação da Palavra do SENHOR.
Desvenda os meus olhos (17-24): O desvendamento dos olhos (cf. 2 Rs 6.17) para ver as maravilhas (cf. Sl 26.7; 86.10) da lei de Deus (cf. 2 Co 3.14-16) remete à iluminação fornecida pelo Espírito Santo (cf. Ef 1.17-19). O salmista enxerga-se como um “peregrino”, pois se sente como “um alienado” que desconhece as leis do reino sagrado – por isso, ele procura apreendê-las. Algum tipo de perseguição o salmista sofria por parte de “príncipes”, governantes locais (também no v. 161).
Vivifica-me (25-32): O pedido por ensino e entendimento (vv. 26, 27, 30) associa-se à súplica por vivificação e fortalecimento (vv. 25, 28). O salmista tem sua alma “pegada ao pó” (v. 25; cf. Sl 44.25), isto é, consumida de tristeza (v. 28), e para isso a solução é aprender de Deus (cf. Jo 6.45). Faz-se alusão a alguma oração anterior (v. 26), como no Sl 32.5. Agora, sua petição encontra-se nos vv. 26-b e 27. Contrastam-se o caminho da falsisade e o caminho da verdade (cf. vv. 29, 30; Sl 1.6; Pv 4.14-19; Mt 7.13, 14), algo característico da literatura de sabedoria. O dilatar do coração constitui uma figura de linguagem para indicar afastamento das ansiedades (cf. Mt 6.31-34; Fp 4.6; 1 Pe 5.7).
Inclina o meu coração (33-40): O salmista agrada-se de Deus (v. 35), e não quer sucumbir à cobiça (cf. Mt 26.41). O verso 38, na ARC, declara: “Confirma a tua promessa ao teu servo, que se inclina ao teu temor”. Esse “temor” é uma reverência consciente e profunda, e não guarda relação com medo. Na Almeida Revista e Atualizada (ARA), o texto assim se exprime: “Confirma ao teu servo a tua promessa, feita aos que te temem”. Em sua Bíblia Anotada, que utiliza o texto da ARA, RYRIE oferece a alternativa “Confirma ao teu servo a tua promessa, a qual produz reverência por Ti”. A palavra hebraica para “temor”, utilizada no v. 38, não é a do v. 39, onde o salmista se refere a um “opróbrio” que teme. Sabemos que “o perfeito amor lança fora o temor” (cf. 1 Jo 4.18). “Vivifica-me por tua justiça” (v. 40) é um pedido que aproxima esta seção da que a antecede.
Terei o que responder (41-48): O salmista pede a Deus as misericórdias e a salvação que decorrem da Sua Palavra, a qual ele pretende proferir para responder aos seus inimigos (v. 42). Com o auxílio divino, o crente poderá falar corajosamente, até mesmo na presença de reis (v. 46; cf. Dn 3; Mt 10.18, 19; discursos de Paulo em Atos dos Apóstolos). O ato de levantar as mãos sugere adoração, reverência, piedade, alegria (cf. Sl 28.2; 1 Tm 2.8).
Na qual me fizeste esperar (49-56): O uso de “Lembra-te”, na oração, é exemplo da figura de linguagem conhecida como “antropopatismo”: Deus não se esquece jamais, e a ideia é de que Deus cumpra Suas promessas, nas quais o salmista espera. O servo de Deus já havia sido vivificado anteriormente (v. 50). Uma “grande indignação” (v. 53) apoderara-se do salmista por causa dos pecados cometidos pelos “ímpios que “abandonam a tua lei” (cf. vv. 136, 158). Em suas “peregrinações” (v. 54), o salmista entoa cânticos a Deus, a partir do que aprendeu dos Seus estatutos (v. 19; 1 Cr 29.15). É inevitável recordar da coletânea dos “Cânticos dos Degraus” (Salmos 120-134), associada às festas tradicionais do povo judeu. A obediência a Deus é uma prática que o salmista tem vivenciado (v. 56).
Minha porção é o SENHOR (57-64): A devoção do salmista a Deus é o que o leva a observar a Sua Palavra. Sua “porção” é o próprio SENHOR (cf. Sl 16.5; 73.26). O salmista busca a presença de Deus, o seu “favor” (v. 58); ele está ciente das artimanhas dos ímpios, mas não se afasta das Escrituras (v. 59; cf. v. 110). O eu-lírico busca a Deus, e, por isso, observa as Suas palavras (vv. 57-64). A sua porção é o SENHOR. Na religião cristã, não foi um anjo que veio habitar o crente, tampouco uma força, energia ou influência: Deus habita no coração daquele que crê em Seu Filho. A alegria dos salvos é completa por causa dessa convicção (cf. 1 Jo 1.3, 4). Toda a História da Salvação baseia-se no plano concebido por Deus, que passa pelo envio da parte do Pai, pela execução do plano pelo próprio Cristo e pela aplicação dos méritos de Cristo ao coração do pecador mediante o convencimento pelo Espírito Santo (os capítulos 15 a 15 de João trazem elementos fundamentais quanto à economia da salvação).
Foi bom ter sido afligido (65-72): O salmista aprende com o sofrimento e com a disciplina. No Salmo 119, em diferentes momentos, acham-se lições sobre uma adequada teologia do sofrimento, algo próprio da literatura sapiencial. “Ensina-me” (v. 66) é um pedido recorrente, e aqui o salmista solicita “bom juízo e ciência” (cf. Hb 5.14). Ele admite pecados anteriores, em cujo contexto foi disciplinado e veio a aprender (v. 71; Is 38.17). A insensibilidade para com Deus é rejeitada pelo salmista (vv. 70b-72). A Palavra de Deus é reconhecida como fonte inexcedível do bem, do bom juízo, da ciência, de bênçãos e de alegria por aquele que, em tendo sido afligido, entendeu que a disciplina visa a um destino melhor (vv. 65-72). Indiferente a isso, o ímpio deixa que seu coração se engrosse “como gordura” (v. 70), tornando-se “insensível, como se fosse sebo” (cf. ARA). Na experiência comum, depara-se o vivente com pessoas de mente “cauterizada” (cf. 1 Tm 4.2), “filhos de Belial” (cf. Dt 13.13; Jz 19; 1 Sm 2.12; 1 Rs 21.10; Pv 6.12; 2 Co 6.15), que não aceitam conselhos, fecham-se a toda a verdade e se enfileiram à perdição.
Alegraram-se quando me viram (73-80): O salmista professa a sua fé na doutrina da Criação, evocando uma saudável antropologia que serve de esteio para a sua confiança (v. 73; cf. Sl 139.14-16; Jó 10.8-11; 31.15). Ele tem algum receio da perseguição, mas confia em Deus, e toma a Palavra como a sua “delícia” (vv. 77, 78). A trajetória piedosa ensejará regozijo, porque as pessoas constatarão a graça do SENHOR na vida do crente (vv. 74, 79). A experiência traumática pode ser transformada em belo testemunho e certeza completa (vv. 75, 76).
Odre na fumaça (81-88): A descrição do sofrimento do salmista assemelha-se a discursos de Jó e encontra eco em outros Salmos (Sl 69.8; 102.4). Ele se acham exausto, e se enxerga como “odre na fumaça” (v. 83), ou seja, como um receptáculo de vinho deixado a um canto, sem utilidade, obscuro e envilecido. Ainda que em circunstâncias de aflição e acentuada consciência de sua própria miséria, o salmista não se esqueceu da Palavra do SENHOR. Homens maus abriram covas para o servo do SENHOR (v. 85; cf. Sl 57.6), mas ele clama por justiça e vivificação (vv. 86-88).
A Palavra permanece no céu (89-96): O v. 89 exprime a imutabilidade e eternidade da Palavra de Deus (cf. Sl 89.2). É a Palavra que Deus que sustenta o mundo (vv. 90, 91). A perfeição reside exclusivamente em Deus (v. 96; Jó 11.7-9). Deus é Imanente, Provedor, Fiel, e o Supremo Governante do Universo.
Quanto amo a tua Lei! (97-104): Não há petições nesta estrofe. Reitera-se o amor à lei de Deus (v. 97). O salmista tornou-se mais sábio que os seus “inimigos” (v. 98), os seus “mestres” (vv. 99) e os “velhos” (v. 100), pois o seu aprendizado é moral e espiritual (não apenas cognitivo). O Ensinador Absoluto é Deus (cf. Jo 6.45; 16.13ss). Nota-se o cuidado em sempre associar a Palavra de Deus ao Deus da Palavra. Quem acusa os cristãos conservadores de bibliólatras deveria ler novamente o Salmo 119 e reconhecer a ingente alusão à Personalidade de Deus, Autor das Escrituras.
Lâmpada para os meus pés (105-112): Um dos versos mais conhecidos do Sl 119 é o 105. A Escritura oferece orientação para a vida. O salmista reconhece que tem “a alma” nas “mãos”, ou seja, entende que sua vida precisa de um arrimo superior (cf. Jó 13.14). Os testemunhos do SENHOR foram tomados “por herança” (v. 111), e não existe patrimônio maior. Firma o salmista o compromisso de cumprir a Palavra de Deus “para sempre, até ao fim” (v. 112). Os vv. 105-112 orbitam em torno da observância contínua da Palavra como guia durante os procedimentos diários.
Sustenta-me, sustenta-me (113-120): O salmista aborrece a “duplicidade”, a “mente vacilante” (cf. 1 Rs 18.21; Tg 1.6-8). Ele sente arrepios por causa do juízo inevitável sobre os ímpios (v. 120).
Já é tempo de operares (121-128): A Palavra de Deus excede o valor do ouro mais fino. Diferentemente dos transgressores, o salmista pode reivindicar de Deus um tratamento especial (v. 124), que não se baseia numa justiça própria, mas no compromisso que Deus tem consigo mesmo, com o que Ele prometeu (cf. Sl 33.5; 89.14; 2 Tm 2.13). O salmista demonstra humildade para aprender. A afirmação de ser “tempo de operares” está associada à aplicação de julgamento, e não à distribuição de dons espirituais, como alguém poderia supor (v. 126; Jr 18.23b).
A exposição das tuas palavras… (129-136): Os testemunhos de Deus são “maravilhosos” (excepcionais, extraordinários, como no v. 18). A exposição da “tua palavra” consiste na comunicação e esclarecimento do conteúdo das Escrituras (v. 130). “Abri a boca e respirei” (v. 131) sugere ansiedade pela Palavra de Deus. O pedido para que Deus faça resplandecer o Seu rosto sobre o Seu servo (v. 135) remete à mesma linguagem da Bênção Aarônica (cf. Nm 6.22-27).
Fidelidade, pureza e justiça (137-144): É Deus Quem valida a Sua Palavra. Como Deus é Justo, Fiel e Puro, assim é a Sua revelação escrita (vv. 137, 138, 140). “Meu zelo me consumiu” (v. 139; cf. Sl 69.9).
Antecipei-me à alva (145-152): O salmista intensifica a oração. Ele antecipa-se “à alva” (vv. 147, 148), isto é, acorda antes do amanhecer, para ler e meditar. Ele tem pressa e, ao mesmo tempo, prazer em estar diante das Escrituras. A Palavra do SENHOR é antiga, reconhecida, verificada na prática dos Seus preceitos (v. 152).
Pleiteia a minha causa (153-160): O salmista persevera em oração. Sua insistência é notável. Ele se aflige com os pecados que observa (v. 158), e almeja ser vivificado conforme a “palavra”, os “juízos” e a “benignidade” (cf. vv. 154, 156, 159). A “tua palavra” mantém-se “desde o princípio” (v. 160).
Um grande despojo (161-168): Repudia-se, no Salmo 119, toda “falsidade”, tudo aquilo que não é moralmente correto nem espiritualmente agradável a Deus (cf. Rm 1.18-32). O crente deve ser íntegro (cf. Sl 1; 7.3, 4; 15; 17.3, 4; 26.1-4). O louvor a Deus é dedicado “sete vezes” (v. 164), enquanto o Salmo 55.17 fala de orações em três momentos do dia – o poema carrega-se de abundante entusiasmo. Aqui não há petições.
A ovelha desgarrada (169-176): Retorna-se, ao final, a um clamor insistente. O salmista profere e deseja proferir o louvor, contínuo louvor (vv. 171, 175). Todas as dimensões da vida são dedicadas à Palavra de Deus: entendimento (v. 169); palavras, louvor, celebração (vv. 171, 172); escolha (v. 173); prazer (v. 174); percepção moral e espiritual (v. 176). RYRIE expõe tais dimensões como sendo mente (v. 169); boca (vv. 171, 172); vontade (v. 173); emoções (v. 174); e consciência (v. 176). O salmista apresenta-se como alguém que se deixara desgarrar tal qual “ovelha perdida” (v. 176), imagem que o leitor do Novo Testamento conhece bem (cf. Lc 15.4-7). Evidencia-se a humildade de quem, tendo construído uma oração tão bonita, não se considera justo em si mesmo. Encerrando o admirável poema, o autor apega-se fervororamente ao que designa como “teus mandamentos” (v. 176), em mais um registro do caráter pessoal do Ser Divino.
Conclusão
O que caracteriza os Salmos, de modo geral, é a resposta do Homem a Deus, em termos de confissão, oração, piedade e adoração. O texto dos Salmos é divinamente inspirado – não se pode olvidar jamais! O que aqui se destaca é a orientação sobre como deve ser ofertada a Deus a resposta perante a mensagem que d’Ele promana. No caso específico do Salmo 119, essa resposta dirige-se a Deus na forma de elogio à Sua Palavra.
A natureza e o conteúdo do Salmo 119 aproxima-se dos lábios, do coração e da atitude dos justos que, em todas as épocas, e todos os lugares, reconhecem a singularidade, a centralidade e a superioridade da Palavra do SENHOR.
Lamentavelmente, vive-se um momento histórico em que o sentimento do salmista não tem sido compartilhado em tantas comunidades que se dizem evangélicas. Diante de pregações expositivas, muitos bocejam e se enfadam. Multidões preferem sensacionalismo, bizarrices, invenções, especulações, espetacularizações, teologias infundadas, frases de impacto, conhecimentos superficiais, texto sem contexto, triunfalismo, teologia da prosperidade, mentiras edulcoradas e autoengano.
É necessário voltar às Escrituras urgentemente. A Palavra de Deus deve ter primazia no púlpito, na cátedra, no lar e no coração. O amor pela Bíblia Sagrada não se manifesta pela enfadonha reiteração de cantigas, performances de palco, gritos ensandecidos nem raciocínios falazes: o amor pela Palavra de Deus evidencia-se pela leitura, estudo, interpretação, meditação, aprendizado, louvor, obediência e proclamação.
Meus amados e queridos irmãos: considerando a classificação do Sl 119 como poema alfabético dedicado a elogiar as Escrituras, gosto de pensar no fato de que Jesus Cristo Se identificou como “o Alfa e o Ômega” (cf. Ap 1.8; 22.13). Que nossas vidas sejam inteiramente preenchidas pelos valores do Reino de Deus, porque Ele é “o princípio e o fim”.
Referências Bibliográficas:
BÍBLIA SAGRADA. King James Atualizada. Tradução dos mais antigos e reconhecidos manuscritos sagrados nas línguas originais (hebraico, aramaico e grego), incorporando o estilo clássico, reverente e majestoso da tradução “Authorized Version”/King James de 1611. Niterói-RJ: BV Books. 2 ed. 2016, 2.552.
BÍBLIA SAGRADA – HARPA CRISTÃ. Texto Bíblico: Tradução de João Ferreira de Almeida – Edição Revista e Corrigida, 4. ed., Barueri-SP: Sociedade Bíblica do Brasil. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, 1920p.
DAVIDSON, F. (editor). O Novo Comentário da Bíblia. V. I. São Paulo, Vida Nova, 1963, 740p.
RYRIE, Charles Caldwell. A Bíblia Anotada. Traduzido por Carlos Osvaldo Cardoso Pinto. São Paulo: Mundo Cristão, 1994, 1835p.
SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. 29 Minutos para Entender a Bíblia e a Essência da Palavra de Deus. Rio de Janeiro: Sextante, 2019, 224p.
- Alex Esteves da Rocha Souza é evangelista da Assembleia de Deus filiado à CEADEB. Bacharel em Direito. Analista de Direito do Ministério Público Federal. Mestrando em Teologia Ministerial pela Carolina University (EAD). Relator do Conselho de Ética da Assembleia de Deus em Salvador, e membro da Comissão de Ensino da mesma Igreja, onde também serviu como vice superintendente na sede. Autor do livro O Reino que Não Será Destruído: Estudos Elementares no Livro do Profeta Daniel (Edições Bernhard Johnson). Professor e colaborador do material didático da EETAD, tendo escrito os subsídios dos livros Hermenêutica Bíblica I, Doutrina da Salvação, Profetas Menores e Daniel e Apocalipse ↩︎