Raizes Pentecostais

Por Pr. Tiago Rosas1
Professor da EETAD, Idealizador EBD Inteligente

Não queremos ser sectários ou bairristas, mas sem hesitar diremos que a doutrina pentecostal é a que melhor reflete a doutrina dos apóstolos e a experiência dinâmica de adoração, poder do Espírito e serviço cristão que caracterizaram a igreja do período apostólico. Deixe-se claro, porém, que não falamos do “pentecostalismo marginal” que se apresenta de modo zombeteiro e escandaloso nas redes sociais! Um pentecostalismo sem doutrina, sem Cristo, sem cruz, sem a santidade do Espírito, sem a genuína manifestação de dons espirituais e ainda eivado por fanatismo, sincretismo e algaravia que não nos representa nem merece crédito.

Falamos aqui do pentecostalismo em sua essência, biblicamente centrado e comprometido com o fogo genuíno do Espírito (que ilumina, aquece e purifica), não de falsificações baratas, populistas e tresloucadas, vendidas como “avivamento espiritual”, quando na verdade não passam de “fogo estranho”, emocionalismo e manipulação da ingenuidade alheia. O cuidado com essas falsificações e manipulações sempre manteve os pioneiros pentecostais em alerta. Foi William Seymour quem escreveu ainda início do avivamento da Rua Azusa (1906), conforme consta na primeira edição do Jornal da Fé Apostólica, editado pelo próprio Seymour: “Estamos medindo tudo pela Palavra; toda experiência deve se medir pela Bíblia. Alguns dizem que isso é exagero, mas se vivemos mui apegados à Palavra, essas contas ajustaremos com o Senhor quando o encontrarmos nos ares”. Distinguido o joio do trigo, prossigamos em nosso raciocínio quanto à sublimidade da doutrina pentecostal.

O evangelho pleno na

mensagem pentecostal

É fácil perceber lendo os Evangelhos, Atos e as Epístolas (especialmente as de Paulo) que a igreja neotestamentária vivia e proclamava o evangelho pleno, isto é, o evangelho completo de nosso Senhor Jesus, que engloba marcas cristocêntricas (Cristo no centro da nossa fé e da nossa pregação): Jesus Cristo salva, cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará!  Embora esse jargão pentecostal seja tributado ao presbiteriano A. B. Simpson (1843-1919), ex-cessacionista e um dos pioneiros do “movimento de cura divina”, e depois tenha sido popularizado pela evangelista pentecostal Aimeé MacPherson (1890-1944), fundadora da Igreja Internacional do Evangelho Quadrangular (que, aliás, tem esse nome justamente por apregoar o evangelho de quatro pontos supramencionados), a verdade resumida nessa declaração está alicerçada em sólida doutrina bíblica. Senão vejamos passagens como Lucas 19.10 e Atos 16.31 (salvação em Cristo), Lucas 10.9,19 e Atos 9.34 (cura em nome de Jesus); Lucas 3.15,16 e Atos 1.5,8; 2.1-4 (batismo no Espírito Santo), João 14.1-3 e Atos 1.10,11 (A Volta de Cristo).

Mas não apenas o “evangelho quadrangular” nos caracteriza e nos identifica com a igreja do Novo Testamento. De muitas outras formas carregamos o legado de fé, doutrina, devoção e serviço evidentes entre os primeiros cristãos. Eis algumas marcas excelentes da doutrina pentecostal listadas abaixo.

1. Profundo senso de presença do

Deus Triúno entre nós e em nós

Pentecostais estão convictos de que Deus é real, existe eternamente em três Pessoas distintas e iguais em seus atributos (onipotência, onisciência, onipresença, eternidade, santidade, etc.) e que pode não apenas ser conhecido, mas também sentido na experiência do dia a dia. Pentecostais alimentam um profundo senso de imanência divina e é comum em nosso louvor e pregação dizermos: “estou sentindo Deus aqui”. Esta certeza de que Deus é um “Deus de perto”, nos motiva a fé para continuarmos orando e servindo, a despeito das tribulações da vida. Afinal, o Deus Filho nos prometeu: “eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). Yavé Shamah – o Senhor está aqui!

2. Convicção da autoridade da Bíblia como Palavra inerrante e infalível do Deus todo-poderoso

Pentecostais têm em alta estima o santo Livro de Deus, e para ele nos voltamos como nossa regra universal e infalível de fé (doutrina) e prática (conduta). O pentecostal raiz, ao contrário dos saduceus nos dias de Jesus, busca conhecer tanto as Escrituras quanto o poder de Deus. Ele não vive num dilema entre Escritura versus poder ou doutrina versus experiência; antes, busca o poder e a experiência segundo as Escrituras, tendo estas a primazia sobre nossa fé. Assim, podemos apontar para a nossa experiência de adoração fervorosa e serviço dinamizado pelo Espírito e dizer como Pedro: “isto é o que foi dito pelo profeta Joel…” (At 2.16; Jl 2.28,29). Dito doutra forma: os críticos podem nos julgar, mas nosso fundamento é a Palavra!

3. Batismo de poder no Espírito

Santo para o serviço cristão

Embora já mencionado anteriormente, enfatizamos o batismo no Espírito Santo porque sua importância é vital à fé pentecostal! Cremos piamente no batismo de poder, distinto da obra da regeneração, e com propósito de empoderar os crentes para o corajoso testemunho de Cristo ao mundo (At 1.5-8). Jesus encorajou seus discípulos a orar por esse batismo (Lc 11.9-13). Sendo eles já crentes e tendo já recebido outrora o Espírito de regeneração (Jo 20.22), sob persistente clamor receberam o maravilhoso derramamento do Espírito e receberam, cada um, o seu batismo de poder (At 2.1-4). Vê-se, portanto, que não se confundem regeneração e batismo no Espírito, pois são duas maravilhosas experiências distintas prometidas aos que crerem. Como Pedro e João intercederam pelos crentes samaritanos, dantes convertidos pelo ministério de Filipe, pentecostais também oram pedindo a Deus que encha seus vasos, fazendo-os transbordar do poder do céu para se entregarem à missão a que o Senhor os tem chamado (At 8.4-8, 14-17). Uma igreja genuinamente neotestamentária trabalha pela salvação das almas e ora por batismos no Espírito Santo entre os crentes!

4. Operação dos maravilhosos

dons do Espírito

Pentecostais não abrem mão da doutrina bíblica dos dons! Não somos saudosistas, olhando para o passado da Igreja como cheio de fartura espiritual enquanto caminhamos em desertos, pisando com pés descalços sobre serpentes e escorpiões. Não! O poder de Cristo e de seu maravilhoso Espírito dado uma vez à Igreja, jamais foi retirado dela (Mc 16.17,18; Lc 10.19). Podemos, então, repetir com autoridade as palavras de Paulo: “De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Co 1.7). Enquanto aguardamos Jesus voltar, nenhum dom nos faltará! A manifestação desses dons confirma a presença de Deus entre o seu povo, equipa os cristãos (independentemente de sexo, faixa etária ou classe social) para o diversificado serviço na obra do Mestre, dinamiza o culto público, quebra resistências ao evangelho e ainda neutraliza e afugenta poderes das trevas, que sucumbem perante o imensurável poder do Espírito de Deus. Como disse Lutero, na versão original do clássico hino Castelo forte, “O Espírito e os dons são nossos”. Amém.

5. Transformação do caráter mediante desenvolvimento do fruto do Espírito

Pentecostais também enfatizam a necessidade de uma vida santa, transformada pelo Espírito, ajustada à Palavra de Deus e que reproduza a pureza do caráter de Cristo. Como dizia o doutor Stanley Horton, uma das maiores referências na teologia pentecostal mundial, pregamos o “poder pentecostal” e também a “santidade pentecostal”. O Espírito que empodera é o mesmo que santifica, produzindo em nós o seu fruto (Gl 5.22). E sem santificação ninguém verá o Senhor, nem que seja o mais fervoroso pentecostal! (Hb 12.14). Ainda no dia de Pentecostes, Pedro conclamava seus ouvintes à santidade, quando os exortava dizendo: “Salvai-vos desta geração perversa” (At 2.40). Aliás, disse com razão o pastor inglês Donald Gee, fundador das Assembleias de Deus na Grã-Bretanha, que o pentecostalismo original é de cinco e não de quatro pontos: Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo, santifica (!), e breve voltará! 

Concluímos encorajando nossos irmãos pentecostais a continuarem firmes nestas preciosas doutrinas, pois elas nos foram transmitidas por “homens idôneos” (2Tm 2.1) que foram os nossos pastores e pioneiros da fé pentecostal cuja fé é digna de ser imitada (Hb 13.7), mas suas raízes pentecostais estão lá na doutrina dos apóstolos na qual faremos bem em perseverar (At 2.42).

  1. Tiago Rosas é casado, pai, ordenado evangelista pela igreja Assembleia de Deus em Campina Grande, onde serve como coordenador de Escola Dominical, cursou Letras e Teologia (Livre). Escritor de quatro livros, sendo os mais recentes: Reflexões contundentes sobre Escola Bíblica Dominical e Poder, poder pentecostal: reafirmando nossa doutrina e experiência à luz das Escrituras. Na internet, é atuante há cerca de dez anos, compartilhando conteúdo bíblico, evangelístico e teológico, especialmente nas páginas que administra no Facebook: EBD Inteligente. ↩︎