Raizes Pentecostais

Bíblia, a gramática do céu

Por Pr. Tiago Rosas 1
Professor da EETAD, Idealizador EBD Inteligente

“Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, e que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra” (2Tm 3.14-17)

No texto bíblico supramencionado, o apóstolo Paulo faz menção da Palavra de Deus como “sagradas Escrituras” (gr. hiera grammata). A raiz da palavra escritura é, no texto grego, a mesma da palavra gramática. Podemos, então, seguramente dizer que a Bíblia é a gramática do céu! Assim como o idioma é um dos principais elementos de qualquer cultura terrena, o céu também tem o seu “idioma” de pureza e santidade, e o bom domínio desse idioma depende do quanto aprendemos a gramática celestial, com o pronto auxílio do divino professor Espírito Santo (Jo 14.26).

O doutor dos gentios também elenca outros atributos da gramática celestial, que todo cristão precisa atentar, confiar e confessar. Há muita gente mundo afora “gaguejando” nessa gramática ou mesmo violentando-a em suas pregações, ensinos ou conduta de vida justamente por rejeitar conhece-la a fundo ou por relativizar a sua autoridade na formação de cidadãos dos céus. É urgente fazermos coro com os santos apóstolos do Senhor na defesa da autoridade suprema das sagradas Escrituras. Listamos a seguir alguns dos predicados do santo livro.

As Escrituras são sagradas

Isto quer dizer que a procedência do santo Livro, a Bíblia, não é humana, mas divina. Sim, homens redigiram o texto, sob inspiração do Espírito Santo; cerca de quarenta escritores num intervalo de aproximadamente 1600 anos (de Moisés, 1500 a.C., a João, no final do século I d.C.). Todavia, como o impulso, a sabedoria e a revelação procederam de Deus, dizemos que recebemos a Bíblia “não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade) como palavra de Deus” (1Ts 2.13).

Por ser sagrado, este Livro é poderoso para nos dar salvação, mas com a condição da fé em Cristo Jesus, uma vez que “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11.6). Quando lido, crido e obedecido, este Livro nos enche de sabedoria tal que nem mesmo os mais doutos e experientes mestres deste mundo podem superar! (Sl 119.97-100). São pobres os lares, os seminários e os púlpitos das igrejas que substituem a Bíblia por compêndios de filosofia e psicologia ou mesmo pela teologia fria e formalista, desprovida de conexão e sujeição à gramática do céu. Que Deus nos dê uma teologia viva e fervorosa, solidamente edificada no alicerce da Sua Palavra! 

A Escritura é inspirada em sua totalidade

Todos os 66 livros, todos os 1.189 capítulos e todos os mais de 31.100 versículos da nossa Bíblia são Palavra de Deus, soprada pelo Espírito Santo no coração e na mente dos autores originais (chamados de hagiógrafos), que logo cuidaram em registrar cada palavra, sob supervisão do mesmo Espírito para que nada fosse escrito aquém ou além do que o Autor divino desejava.

Em linguagem teológica dizemos que a Bíblia é inerrante e infalível, e goza de inspiração verbal e plenária. Mas que significam esses predicados?

a) Inerrante: a gramática do céu não contém erros em suas declarações. É possível que por algum desconhecimento ou desatenção do tradutor, alguma versão traduzida possa trazer equívocos pontuais que, tão logo percebidos por tradutores mais doutos e experientes, são corrigidos. Porém, visto que se trata da “palavra da verdade” e não da mentira (Jo 17.17; 2Tm 2.15), a Bíblia em sua redação original e nas cópias ou traduções que prezam por rigorosa fidelidade está isenta de erros quaisquer. Por isso ela é “digna de toda aceitação” (1Tm 4.9).

b) Infalível: o Livro sagrado registra-nos maravilhosas promessas, como também solenes advertências, para que temamos a Deus e andemos segundo o propósito que ele tem para nós. Se andamos segundo a Palavra, experimentamos a boa, perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12.2); porém, se nos desviamos da Palavra ou se a torcemos para ajustá-la aos nossos interesses, então sofreremos o castigo que ela já prevê para os desobedientes. O conhecidíssimo texto de Hebreus 4.12 (“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz…”) trata justamente da eficácia das advertências do Senhor contra os que insistem em desobedecer a sua palavra, como os hebreus nos dias de Moisés e Josué. A Bíblia é eficaz para salvar o que crê, mas também para condenar o infiel (Jo 12.48). Entendido isso, jamais volte à sua Bíblia como uma mera “caixinha de promessas” ou livro de autoajuda. Ela é a “espada do Espírito” (Ef 6.17)!

c) Inspiração verbal e plenária: o texto bíblico em sua integridade é divinamente inspirado. Paulo diz que “toda a Escritura é divinamente inspirada”. Assim, a Bíblia não se torna, ela é a Palavra de Deus! Não é preciso que cada versículo bíblico seja o registro de uma fala direta de Deus; basta que o registro de cada versículo bíblico tenha sido inspirado por Deus. Assim, mesmo quando o autor humano registrou uma fala do diabo ou de algum ímpio, ali está a Palavra de Deus no sentido de que o registro dessas falas no livro sagrado foi inspirado por Deus para que sejamos instruídos quanto aos fatos que envolvem a Criação, a Queda, a Redenção e a Consumação.

A Escritura é proveitosa quando bem manejada

Tanto o leitor quanto o expositor da Bíblia precisam ler, interpretar e aplicar corretamente a Palavra de Deus. Quando assim procedemos, ela evidencia todo seu proveito (gr. ophelimos, isto é, vantagem, lucro). Ao então pastor da igreja em Éfeso, Timóteo, o apóstolo Paulo encoraja a leitura persistente das Escrituras para a congregação (1Tm 4.13) justamente pensando no rico proveito espiritual, moral e social que se extrai de tão nobre ocupação. Pais, pastores, professores de escola dominical ou seminários bíblicos, pregadores e articulistas cristãos devem voltar sua atenção para os ricos benefícios da exposição fiel da gramática divina. Com base no texto de 2Timóteo 3.16,17, são estes os benefícios:

a) Ensinar/ensino (gr. didaskalia). Significa ensinar didaticamente a doutrina. O pregador ou mestre pode ser tentado a levar muita informação para entreter e entorpecer as mentes de seus ouvintes na igreja ou nas salas de aula; porém, é a Palavra de Deus nossa grande matéria de ensino! Não deve se envergonhar o ministro do evangelho que “só ensina Bíblia”. Que outra melhor empreitada pode haver?

b) Redarguir/repreensão (gr. elegchos). Significa verificar, testar, provar as convicções. Há muitas crendices, superstições e distorções teológicas que estão aí se perpetuando através de pregações, canções e livros. Verifiquemos e provemos a autenticidade dessas crenças e ensinos por meio da régua, do prumo, do martelo, do fogo e da espada de Deus, que é a Palavra!

c) Corrigir/correção (gr. epanorthosis), que significa restaurar a um estado correto. Alguns crentes têm se deixado enganar por falsas teologias; outros se encontram emaranhados em pecados; há os que se encontram fracos e doentes espiritualmente. A todos eles, ofereçamos o remédio da Palavra, para trazer o doente de volta à saúde, o fraco de volta à força e o desviado de volta ao caminho! (Hb 12.12,13).

d) Instruir/educação (gr. paideia). Significa treino e educação infantil que diz respeito ao cultivo de mente e moralidade. É o cultivo e crescimento da alma do crente nos bons valores da justiça divina. Assim como em Babilônia tentaram reprogramar culturalmente os meninos Daniel, Mizael, Hananias e Azarias (Dn 1.4-8), estão querendo reprogramar nossas crianças, adolescentes e jovens para adequá-los a uma nova concepção de vida, casamento, família e sociedade, divergente do que preconizam as sagradas Escrituras. Já liberaram casamento gay e aborto, querem liberar as drogas, querem colocar ideologia de gênero nas escolas para confundir a sexualidade de nossas crianças… Que faremos para salvar nossas famílias dessas intromissões malignas? Pedagogia bíblica no lar! (Dt 6.6,7; Pv 22.6).

Paulo também encorajou Timóteo a preservar o aprendizado recebido pela Palavra: “Quanto ao que lhe foi confiado, guarde-o por meio do Espírito Santo que habita em vós” (2Tm 1.14, NVI). O verbo guardar nesse versículo é, no texto grego, philaxon, que significa “colocar os olhos em algo”, ou seja, vigiar em posição militar. Vigiemos quanto ao que temos lido e ouvido; vigiemos quanto ao que tem entrado em nossas casas pela TV ou internet; vigiemos o que está sendo pregado em nossos púlpitos ou ensinado em nossas salas de aula; vigiemos quanto às influências do mundo em nossa volta para que o diabo não perverta nossa fé e nossos costumes. Trabalhemos para ser perfeitos em nosso próprio caráter e perfeitamente instruídos para servir ao Senhor em toda boa obra. Biblifiquemo-nos!

  1. Tiago Rosas é casado, pai, ordenado evangelista pela igreja Assembleia de Deus em Campina Grande, onde serve como coordenador de Escola Dominical, cursou Letras e Teologia (Livre). Escritor de quatro livros, sendo os mais recentes: Reflexões contundentes sobre Escola Bíblica Dominical e Poder, poder pentecostal: reafirmando nossa doutrina e experiência à luz das Escrituras. Na internet, é atuante há cerca de dez anos, compartilhando conteúdo bíblico, evangelístico e teológico, especialmente nas páginas que administra no Facebook: EBD Inteligente. ↩︎

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