Por Profª Marta Doreto de Andrade 1
Professora da EETAD, autora da Edições Bernhard Johnson

“Haja o que houver, continuaremos a pregar a verdade”, declarou Gunnar Vingren, ante às ameaças de Raimundo Nobre.
O evangelista entrara intempestivamente no aposento estreito, onde se realizavam os primeiros cultos pentecostais, no porão daquela igreja Batista, e acusara os nossos pioneiros de terem ideias separatistas e plantarem a desunião no coração dos irmãos. Com duras ameaças, quis calar o ensino do batismo com o Espírito Santo e dos dons espirituais, propagado por Gunnar Vingren e Daniel Berg.
Ante a firme declaração de Gunar Vingren, o opositor exasperou-se ofendido: “Está sugerindo que eu não prego a verdade?”. Ao que Vingren respondeu calmamente: “Não digo que o irmão não esteja na verdade. Mas afirmo que ainda não achou toda a verdade.”
A breve e difícil troca de palavras concluiu-se com a expulsão dos missionários suecos daquele espaço alugado, que lhes servia de dormitório e lugar de cultos, e a exclusão de dezoito crentes batistas, que professaram sua crença na doutrina pentecostal.
Desde então, conforme comprometeu-se o valente pioneiro, a Assembleia de Deus, no Brasil, tem declarado, pregado e defendido a verdade completa das Escrituras. Não só pela exposição da Palavra, mas pelo cântico também, a verdade divina tem sido propagada e defendida. A Harpa Cristã – hinário oficial das Assembleias de Deus – não deixa de fora nenhuma doutrina bíblica. Temos nela todos os temas doutrinários – inclusive a doutrina pentecostal, não encontrada nos chamados hinários tradicionais.
Além de abranger todo o ensinamento bíblico, a Harpa ainda nos estimula a “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” e a proclamar a Boa Nova aos perdidos. Exemplo disso é o hino 11, “Ó Cristão, Eia Avante”, do autor A. Teixeira da Silva. Examinemos-lhe a poesia biblicamente fundamentada:
Ó cristãos, eia avante, eia avante!
Por Jesus e Sua Igreja a lutar;
Co’a Palavra, essa espada flamante,
Vamos, vamos, irmãos pelejar.
A interjeição de ânimo, brotada de um coração cheio de fervor espiritual, estimula-nos a avançar: eia avante! Ao crente comprometido com a Palavra, não há outra direção senão seguir em frente. Afinal, “ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” (Lc 9.62). A arma dessa peleja é a “espada do Espírito, que é a palavra de Deus”, “viva e eficaz.” Ó espada flamante, reluzente, que “penetra até à divisão da alma e do espírito… e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Ef 6.17; Hb 4.12).
Ó cristão, sempre avante na lida!
O Evangelho com fé a pregar;
Ao trabalho o Senhor nos convida,
Vamos, pois, com Jesus pelejar.
Aqui, o autor traz-nos à memória o convite do Mestre, “Vinde após mim”, quando fez de seus discípulos pescadores de homens. Um chamado firme e irrecusável: “Segue-me” (Mt 4.19; Mt 9.9).
Ó cristãos, eia avante, eia avante!
Boa Nova aos perdidos levar;
Por cidades e vilas adiante,
Salvação vamos nós proclamar.
Ecos do convite do Mestre na alma do compositor trazem junto a lembrança de Sua ordem: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). “… e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (At 1.8). Emociono-me ao escrever estas palavras. Penso nos primeiros anos da Assembleia de Deus no Brasil, quando, movidos pelo mesmo Espírito e pela mesma Palavra, Gunar Vingren avançava “por cidades e vilas adiante”, levando a Boa nova aos perdidos. Daniel Berg, atravessando rios e selvas, levava ao ombro a maleta de Bíblias e, no coração, a chama pentecostal. E poetas, como A. Teixeira da Silva, compunham hinos que professavam a sã doutrina e impulsionavam a proclamar a salvação em Jesus.
Ó cristãos, eia avante, eia avante!
Pois a aurora já vemos raiar.
Desse dia em que Cristo, triunfante,
Neste mundo há de sempre reinar.
Após aludir à Grande Comissão, o coração do compositor antecipa o retorno triunfante de Cristo, para instaurar o seu reino sempiterno: “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá” (Ap 1.7). “E o Senhor será rei sobre toda a terra; naquele dia um será o Senhor, e um será o seu nome” (Zc 14.9).“
Ó cristãos, eia avante, eia avante!
Vexilários da fé vamos ser;
E a vanguarda do exército brilhante
Que gloriosa vitória há de ter!
A imagem evocada nesta estrofe é a de um exército aguerrido, que defende em combate o seu símbolo precioso. A Wikipédia informa-nos que o vexilo era a insígnia principal de certas unidades militares romanas. Nós o chamaríamos de bandeira, estandarte ou pendão. E o soldado que levava o vexilo era o vexilário – para nós, o porta-bandeira.
Se A. Teixeira da Silva era militar, não sei, mas certamente militava “a boa milícia da fé” (1Tm 6.12), erguendo bem alto o pendão de Cristo: o Santo Evangelho, a Sã Doutrina, e todo o Conhecimento de Deus. Atiçavam-no as palavras do apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2Tm 4.12). E, “… nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20.27).
Ó cristãos, eia avante, eia avante!
Com coragem, sem nada temer;
Com Jesus, divinal comandante,
Nós havemos, irmãos, de vencer.
Que passagens da Bíblia teriam inspirado estes versos encorajadores? A de “Estêvão, cheio de fé e de poder”, de modo que os que com ele disputavam “não podiam resistir à sabedoria, e ao Espírito com que falava”? (At 6.8-10). A de Pedro e João anunciando “com ousadia a palavra de Deus”? (At 4.31). A de Paulo entrando na sinagoga e falando “ousadamente por espaço de três meses, disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus”? (At 19.8). Talvez a promessa mesma do Divinal Comandante: “… eles vos entregarão aos sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas… por causa de mim… Mas, quando vos entregarem, não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós” (Mt 10.17-20).
Sim, a Harpa Cristã canta a verdade completa das Escrituras e encoraja-nos a defendê-la, a tempo e fora de tempo.
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- Marta Doreto de Andrade é autora de várias obras, para adultos, jovens e crianças. Quem não se lembra com saudades de seu primeiro livro, “Thais a Bela do Éden“? Quantas crianças não leram “O Evangelho para a Garotada“? A autora atuou como professora-evangelista por mais de quarenta anos, não apenas lecionando, mas escrevendo livros e comentando revistas de Escola Dominical para crianças e adolescentes. Ultimamente, vem se dedicando a escrever para as mulheres. Duas de suas obras mais queridas são “Quando o Amado Desce ao Jardim” e “Mulheres que Ouviram a Voz de Deus“. A irmã Marta é esposa do Pastor Claudionor de Andrade, mãe do Pastor Gunar Berg e da autora Karen Bandeira, e avó de quatro netos, servos do Deus vivo. ↩︎