Por Pr. Alex Esteves 1
Professor da EETAD e autor das Edições Bernhard Johnson

Neste período de comemoração por seus 45 anos de existência, a EETAD propõe uma reflexão sobre aquilo que toma por sua missão especial, que consiste em treinar estudantes para a construção de um raciocínio bíblico.
Nas mais diversas áreas da inteligência, alunos exercitam-se na adoção de princípios e técnicas correspondentes a determinado objeto de estudo, empregando-se linguagem, metodologia e finalidades próprias. É assim que, por exemplo, são transmitidas as bases do raciocínio jurídico, do pensamento lógico-matemático, e assim por diante. Algo similar acontece no ramo da teologia, pois a abordagem da Bíblia Sagrada deve atender a pressupostos, regras e métodos compatíveis com a sua natureza singular.
Dessa forma, não se trata apenas de hermenêutica (arte e ciência de interpretar textos), mas também de epistemologia (teorização acerca de como se processa o conhecimento). A EETAD filia-se à hermenêutica cristã conservadora porque interpreta as Escrituras a partir de pressupostos válidos, com regras que contemplam a linguagem e os contextos histórico e literário. Nessa esteira, examina-se a Bíblia como literatura que narra a história da salvação. Em sua dimensão literária, a Palavra de Deus contém variados gêneros e subgêneros, formas de elaboração, técnicas de composição, estilos, figuras de linguagem, nuances idiomáticas, de modo que a consideração de cada espécie de literatura serve.
A discussão em torno dos pressupostos válidos conecta-se com o campo da epistemologia porque é a partir da escolha de premissas que se inicia a investigação. Portanto, além de uma hermenêutica bíblica conservadora, a EETAD estuda a Bíblia no esquadro de uma epistemologia que busca a glorificação do Deus que Se revelou no Texto Sagrado, e não como se se tratasse de livro comum, sujeito a escrutínio eivados de aleatórias preconcepções.
Com efeito, podemos afirmar epistemologicamente que a teologia constitui ramo sui generis do pensamento, não se podendo confundir com nenhuma das outras searas, quais sejam, Ciência, Filosofia, Religião, Cultura e Senso Comum.
Teologia não é Ciência porque se baseia na revelação de fatos sobrenaturais, a que o método científico não pode alcançar; não é Filosofia porque esta se exprime pelo questionamento racional, sem cogitar de algo revelado; não é Religião, apesar de tratar de temas religiosos, porque o simples arcabouço religioso, quando apartado do Texto Bíblico, frequentemente conduz à idolatria; não é Cultura porque não depende da produção exclusivamente humana; e não é Senso Comum porque jamais o raciocínio vulgar acessaria os recônditos da sabedoria divina. Teologia é, desse modo, campo de investigação dos fatos sobrenaturais revelados por Deus na forma de texto.
Dada a sua relevância fundamental, há de se repetir regularmente os pressupostos válidos de interpretação das Escrituras, a saber: consistem elas na revelação escrita, a Palavra de Deus divinamente inspirada, inerrante, infalível, autoritativa, suficiente, compreensível, verdadeira, absoluta, perfeita, sempre atual, eterna e apta para salvar.
A referida perspectiva torna o leitor capacitado a acolher como verdade o que nela está escrito, por força da ação do Espírito Santo (cf. 1 Co 2.6-16; Ef 1.15-18). Isto não significa que um leitor descrente está diante de um livro criptografado, oculto, misterioso, eis que, se adotar os meios de interpretação gramatical e histórica, toda pessoa poderia compreender a mensagem total das Escrituras – o ponto fulcral, no entanto, reside no fato de que somente uma pessoa regenerada consegue absorver como verdadeiras as palavras da Bíblia, tendo em vista a transformação da sua mente e do seu espírito.
Leitores liberais enxergarão a Bíblia como livro mitológico, preconceituoso, obsoleto, adulterado, político, trivial… Mas os cristãos, aqueles que foram lavados e remidos pelo sangue do Cordeiro, enxergam-na como verdadeiramente ela se apresenta: Palavra de Deus, e não de homens (cf. Sl 119.151; 1 Ts 2.13; 2 Tm 3.14-17).
Nesses 45 anos de jornada, a EETAD vem trilhando o caminho do ensino bíblico, para a glória do nosso Senhor, cuja graça é que promove todas as virtudes e todas as bênçãos. Para esse mister, destaca-se o estudo do Texto Bíblico, não se podendo conceber um curso de teologia em que a Bíblia seja simplesmente um livro de referência, mencionado en passant com o único propósito de servir alegadamente como esteio para ideologias e pressuposições divorciadas da revelação divina.
É preciso ler, examinar, estudar, explorar o material bíblico em sua inteireza, atentando-se para o que ali está registrado, ainda que eventualmente alguma passagem nos pareça ainda obscura ou veicule doutrina de difícil aceitação – a limitação pertence sempre ao Homem, nunca a Deus. O estudo de todos os Livros da Bíblia é um aspecto primordial e muito caro à nossa querida instituição, que zela pela chamada “Teologia Bíblica”. O estudante de teologia precisa estar familiarizado com o manejo das Escrituras (cf. 2 Tm 2.15).
Questões da Teologia Sistemática são examinadas para que o aluno obtenha subsídios necessários ao entendimento das doutrinas cristãs, com especial relevo para os elementos doutrinários que caracterizam o Movimento Pentecostal, mas sem nenhum interesse em fomentar discussões frívolas e debates intermináveis (cf. 1 Tm 1.3-7; 2 Tm 2.23-26; Tt 3.9). A aplicabilidade do ensino teológico à vida da Igreja passa, necessariamente, pela configuração de um repertório que contenha as lições essenciais para a sua identificação confessional, com atenção respeitosa, diligente e refletida no que toca ao saber teológico sedimentado pela história eclesiástica.
Agregam-se saberes atinentes à aplicação do estudo teológico à vida cristã e à prática ministerial, incluindo-se lições acerca de terrenos nos quais, se a teologia não for valorizada, os resultados podem ser desastrosos. A EETAD reconhece que a Bíblia Sagrada deve reger todos os aspectos da vida, realçando-se aqui o louvor, a adoração, a pregação, as ordenanças, o ensino, a oração, a comunhão, o evangelismo, as missões, o governo da Igreja, a relação com as autoridades constituídas, a interação com outras áreas do saber e a esperança no porvir. A glória de Deus é o alvo genuíno, o objetivo por excelência de um pensamento que seja autenticamente teológico, sobrepairando a quaisquer especulações que possam advir do tradicionalismo, do experiencialismo ou do racionalismo, imitações medíocres da verdadeira luz.
Um outro aspecto a considerar é a orientação recebida pelos professores e escritores da EETAD quanto à necessidade de promover afirmações de fé, em lugar de um apreço pela disseminação de dúvidas “acadêmicas”, que alimentam a vaidade e não contribuem para a edificação espiritual. O téologo deve buscar na Bíblia respostas para as grandes questões concernentes a Deus, ao Homem, ao Pecado, à Salvação, à Igreja e à Consumação. Não se trata de erguer a voz à maneira absolutista, como se reuníssemos todas as certezas – bem sabemos que “as coisas encobertas são para o SENHOR, nosso Deus” (cf. Dt 29.29). Trata-se, antes, de concitar os ouvintes e leitores à “inteira certeza de fé” (cf. Hb 10.22, 23), no conhecimento de Deus em Cristo (cf. Ef 4.13; 2 Pe 1.2). Estamos cientes de que o conhecimento sobre Deus não é exaustivo, mas igualmente certos de que precisa ser fiel às Escrituras.
Esperamos que estas linhas tenham fomentado no leitor um incremento do seu amor pela Bíblia Sagrada, cujo ensino é a missão da EETAD. Cada letra, cada palavra, cada frase, cada sentença, cada parágrafo, cada perícope, cada Livro, cada Testamento, enfim, as Escrituras procedem da inspiração divina (verbal e plenária). Esse Livro singular deve ser amado, reverenciado, respeitado, conhecido, divulgado, distribuído e ensinado. Devemos amar tanto a mensagem como a forma na qual o Texto Sagrado foi vertido. Seus ricos conceitos, a geografia nela retratada, as histórias que relata, os personagens, o colorido das emoções humanas, as declarações em prosa ou poesia… Tudo o que consta da Bíblia precisa ser considerado com amor, empenho, devoção e fervor. Como dissemos anteriormente, a Bíblia é literatura a contar a história salvífica. Sendo assim, quem é salvo entende bem com que inexcedível valor a Palavra de Deus deve ser acolhida e guardada em seu coração.
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- Alex Esteves da Rocha Souza é evangelista da Assembleia de Deus filiado à CEADEB. Bacharel em Direito. Analista de Direito do Ministério Público Federal. Mestrando em Teologia Ministerial pela Carolina University (EAD). Relator do Conselho de Ética da Assembleia de Deus em Salvador, e membro da Comissão de Ensino da mesma Igreja, onde também serviu como vice superintendente na sede. Autor do livro O Reino que Não Será Destruído: Estudos Elementares no Livro do Profeta Daniel (Edições Bernhard Johnson). Professor e colaborador do material didático da EETAD, tendo escrito os subsídios dos livros Hermenêutica Bíblica I, Doutrina da Salvação, Profetas Menores e Daniel e Apocalipse ↩︎