Raizes Pentecostais

Elizabeth Kinas1

Secretária Executiva da Presidência da EETAD

Convidamos a irmã Elizabeth Kinas, cuja história é intimamente ligada à EETAD e à família Johnson. Presente neste ministério desde os momentos anteriores à sua fundação, a irmã Beth (que é como todos a chamamos) foi secretaria executiva do Pastor Bernhard Johnson, e, desde o falecimento do servo de Deus, tem atuado como secretaria da Missionária Doris Johnson e, claro, de nosso Presidente, o Pr. Terry Jonhson. 

Como a senhora chegou a EETAD? 

Estávamos em 1978. Após dois anos de estudo na América e no Canadá, eu planejava retornar ao Brasil. Antes, resolvi sair de Vancouver, na Colúmbia Britânica, e descer de trem pelo oeste dos EUA até a pequena cidade de Morgan Hill, na Califórnia, para visitar um casal de amigos. Qual não foi minha surpresa ao, durante minha estadia ali, encontrar o Rev. Bernhard Johnson, consultando a lista telefônica. Mais surpreendente ainda foi ser atendida por ele próprio ao discar o número! Identifiquei-me, e ele, para minha surpresa, convidou-me a visitá-los, já que moravam bem perto de onde eu estava.

Foi nesse encontro na casa dos Johnson que, após oração, recebi o convite para fazer parte do trabalho pioneiro da EETAD. Ao chegar a Campinas no verão de 1979, fui conhecer a propriedade. Fiquei espantada ao me deparar com um grande terreno cheio de mato e praticamente vazio, exceto por um barracão. O desafio era grande e empolgante: começar do zero a Escola de Teologia, conforme a visão celestial recebida de Deus pelo Pr. Bernhard.

As condições do começo não era as melhores. O seu coração esteve em paz desde o primeiro dia?

Os planos de Deus não são apenas perfeitos; são surpreendentes. Só temos de deixar que Ele nos conduza pela mão. Cheia de alegre expectativa, aceitei o convite e tive o privilégio de conhecer de perto a amada família Johnson. Ainda me lembro do delicioso fondue de carne que a irmã Doris preparou para o jantar. Eles tinham acabado de receber de presente uma linda residência no topo de uma colina, com uma vista maravilhosa de Morgan Hill. Futuramente, a bela casa seria vendida e o valor obtido empregado na construção do prédio central da EETAD.

Aceitei o chamado de Deus, independentemente da condição. Aos poucos, o barracão foi transformado em salas de aula e escritórios, onde pude ajudar os missionários americanos na preparação do currículo. Em seguida, tive a alegria de assessorar o saudoso Pr. Antonio Gilberto, que montou o currículo da EETAD, chefiando os escritores missionários recém-chegados a Campinas.

Quais eram exatamente as suas responsabilidades como secretária executiva?

Naquele tempo, não existia o título de secretária, e a profissão só seria regulamentada anos depois. Ser secretária no início da EETAD significava arregaçar as mangas e abraçar o serviço no estilo “pau para toda obra”. Na verdade, cada obreiro envolvido na tarefa, homem ou mulher, revelava-se um obreiro “preparado para toda boa obra”.

Minhas atribuições como secretária incluíam o cadastramento dos Núcleos e alunos, ajudar os missionários americanos que estavam escrevendo os livros didáticos, e assessorar os pastores Antonio Gilberto e Bernhard Johnson. Eles estavam sempre em viagens ao exterior, arrecadando fundos para a abertura da Escola Teológica, ou participando de Cruzadas Evangelísticas e do programa na Televisão Bandeirantes.

Naquela época, uma linha telefônica era um investimento alto, e a EETAD ainda não possuía uma. O contato com as igrejas era feito através de um orelhão localizado no Supermercado Carrefour. Mais tarde, felizmente, o Pr. Bruce Braithwaite conseguiu adquirir um telefone próprio, instalado em sua residência. De lá, eu podia contatar igrejas e pastores de todo o Brasil, mas somente à noite, quando as ligações à distância eram mais baratas. Morei seis meses na casa desse amado pastor, e foi uma bênção estar com eles em família.

Então, a senhora ajudava a todos os pastores da EETAD?

Quando comecei (1979-1980), a administração estava nas mãos do Pr. Bruce Braithwaite, que se desdobrava, entregando-se de corpo e alma ao trabalho do Senhor, fazendo o que fosse necessário. Nesse mesmo ano, teve início a abertura de Núcleos, com os desbravadores Pr. Osmar Cabral, Pr. José Maria Cantelly e outros pastores que formavam a equipe.

Mas e quanto ao Pastor Bernhard? Como era trabalhar com ele?

Foi um privilégio trabalhar com alguém que, acima de tudo, era um grande servo do Senhor. O Pr. Bernhard possuía um coração humilde e zeloso com as coisas divinas. Seu caráter, semelhante ao de Cristo, marcou não apenas a minha vida, mas também a de centenas de obreiros.

Seu zelo pelo reino de Deus o tornava perfeccionista, exigindo a mesma perfeição daqueles que o assessoravam. Tive de aprender a acompanhar seu ritmo. Ele não admitia erros em passagens aéreas, no agendamento das cruzadas pelo Brasil ou em reuniões com pastores.

Sinto-me bem-aventurada por conhecer de perto seu amplo ministério, que incluía as Cruzadas Boas Novas, o Programa Bernhard Johnson na TV Bandeirantes, a EETAD e a FAETAD, o IBICAMP, a ABEM, entre outros. Uma obra tão vasta exigia uma excelente equipe de colaboradores, e conhecê-los a todos de maneira pessoal é outra bênção pela qual sou grata.

Como secretária do presidente, qual o maior desafio?

Cobrar pontualidade e disciplina dos pastores que participavam, ocasionalmente, do trabalho era um grande desafio. Uma coisa era eu mesma corresponder às exigências do nosso presidente zeloso; outra era conseguir que outros fizessem o mesmo. Precisei de muita sabedoria e paciência para lidar com os pastores que costumavam atrasar-se para as reuniões. Todos sabem, o atraso faz parte da cultura brasileira.

Todavia, ao ver o exemplo do chefe, que tinha a pontualidade como característica e sempre dava o melhor de si para Deus, todos foram se disciplinando e adaptando-se ao seu ritmo de trabalho. 

Dos vários momentos especiais (bons ou ruins) vividos aqui, qual nos pode ser contado?

Certamente houve muitos momentos marcantes, tanto de lutas quanto de vitórias. Porém, há dois acontecimentos que trago impressos no coração. Um deles foi a morte do presidente e fundador dessa grande obra.

Com muita dor no coração, presenciamos o enfarto do Rev. Bernhard Johnson, no dia 09 de fevereiro de 1995, que o levou à morte por falência cardíaca no dia 16 do mesmo mês. Em meio ao pesar, embora consolados pela certeza do reencontro no céu, um pensamento inquietava-nos: “E agora? O que faremos sem ele?” 

Mas Deus, que sempre nos prepara o melhor, já reservara, na terceira geração da família Johnson, o sucessor do Pr. Bernhard. Seu filho, o Pr.Terry Johnson, missionário aqui no Brasil, prontamente atendeu ao chamado divino para dar continuidade à obra, assumindo a presidência do Ministério Bernhard Johnson no Brasil. Diante disso, tive o privilégio de prosseguir em meu papel de secretária para este servo de Deus e sua digníssima esposa, a irmã Beth Johnson. O Pr. Terry – um homem que busca a face do Senhor em toda tomada de decisão, um intercessor não só pela obra missionária que exerce neste país, mas por cada funcionário da EETAD – é um exemplo a ser seguido.

Outras lembranças assinaladas com lágrimas foram a perda dos dois filhos desse amado casal. Um, ao nascer; o outro, em plena juventude, concluindo a Faculdade Teológica das Assembleias de Deus em Springfield, Missouri. O que mais nos impacta nessas recordações é que nem os avós, nem os pais, retiraram a mão do arado. No primeiro caso, os avós estavam distantes, numa cruzada evangelística no Rio de Janeiro. No segundo, os pais achavam-se no interior de Minas Gerais, com uma equipe de médicos americanos, prestando assistência aos pobres da pequena cidade de Campanha e pregando-lhes o evangelho. É impossível mensurar a dor dos pais, mas, como disse, o que nos impacta nessa história de fé e consagração é que prosseguiram inabaláveis no propósito divino, dirigindo  com excelência a EETAD e os diferentes ministérios que lhes foram confiados. 

De todas as lições aprendidas nesses anos de trabalho, qual é aquela a ser contada aqui, para o aprendizado de todos nós?

A maior lição deixada por nosso presidente e fundador, o Pr. Bernhard Johnson, foi: “E, tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como ao Senhor e não aos homens, sabendo que recebereis do Senhor o galardão da herança, porque a Cristo, o Senhor, servis”. (Cl 3.23). Esse amado servo de Deus, que não foi desobediente à visão celestial, soube partilhá-la com os seus cooperadores, de tal modo, que cada um de nós sente-se responsável por seu cumprimento.