Raizes Pentecostais

Avultando-se como o maior avivamento espiritual dos últimos séculos, o Movimento Pentecostal não precisou de muitas décadas para sobrepujar as denominações históricas e ameaçar a hegemonia do catolicismo romano na América Latina. O Pentecostalismo venceu dificuldades e preconceitos, malquerenças e perseguições. E, assim, de vitória em vitória, logrou espalhar a genuína fé apostólica em quase todos os países, alargando prodigamente os frontões do Reino de Deus.

O Movimento Pentecostal espantou o mundo; os Atos dos Apóstolos nunca se fizeram tão coevos. Hoje, os frutos de seu trabalho acham-se mais do que patentes. É uma força que transcende divisas, limites e fronteiras.

Constrangidos, embora pela modéstia, somos obrigados a reconhecer: o Pentecostalismo é o esperado avivamento para estes últimos dias. Estejamos, porém, atentos a um insidioso adversário que não poupa esforços para arrefecer-lhe o fervor.

O PERIGOSO ADVERSÁRIO

Apesar de todos os poderosos feitos do Movimento Pentecostal, há um inimigo que ainda não logramos vencer totalmente. Trata-se de um adversário ladino e mui sorrateiro. É todo finório esse antagonista. Suas artimanhas dificilmente são detectadas. Age com astúcia e não se incomoda em tomar as cores de todas as ocasiões; adapta-se às mais variadas circunstâncias. Em algumas oportunidades, ei-lo todo fanático; é o mais santo dos místicos. Em outras, é o mesmo formalismo. Apresenta-se como liberal e conservador. Inventa visões e fabrica vaticínios. Com a mesma sanha, debela as revelações e arrefece as mensagens de Deus.

É um oponente incomum esse predador. Vem sempre como amigo; apresenta-se sempre como irmão. Não me refiro aos políticos. Estes aparecem nas eleições; aquele, como eleito. Também não é uma organização, todavia enferma qualquer organismo. Já podemos descobrir-lhe o espectro em quase todas as nossas reuniões. Ele não come, nem bebe; alimenta-se do fervor da Igreja de Cristo.

O NOME DO INIMIGO

No passado, esse inimigo destruiu o ardor da igreja em Laodiceia, e roubou o primeiro amor ao anjo de Éfeso. Insatisfeito ainda, espalhou a doutrina de Balaão em Pérgamo, e a morte semeou em Sardo. Foi mais longe este algoz. Em Tiatira, instalou Jezabel, e muitos acreditaram em suas profecias. Só não conseguiu guarida em Filadélfia e Esmirna.

Em sua passagem, esfriou movimentos. Fez da simplicidade do Evangelho, pomposa liturgia. Transformou os ministros de Cristo em fantoches. Exaltou a idolatria e torceu as Escrituras. Agora, este implacável opositor tenta barrar o ritmo do Movimento Pentecostal. Qual o nome deste inimigo? Ele não tem um nome específico, nem uma alcunha definida, mas vamos chamá-lo de Pentecostalismo sem Pentecostes.

O PENTECOSTALISMO SEM PENTECOSTES

O Pentecostalismo sem Pentecostes é burocrático e institucional. Sobrevive de velhas fórmulas e das amarelecidas páginas dos grandes avivamentos e reformas. Tem história, mas já não faz história; conforma-se às crônicas. O Pentecostalismo sem Pentecostes é uma mera denominação; não tem a pujança dos movimentos. Existe e não tem vida. Vegeta saudosismos, pois já não consegue semear a boa semente. Em sua tardonha caminhada, resmunga pretéritas glórias. Avança para trás, porém não retorna às origens de Atos.

O Pentecostalismo sem Pentecostes cultua a libertação, mas não adora o Libertador. Fala da teologia da prosperidade, porém despreza a prosperidade da teologia bíblica e neotestamentária. É confissão positiva, afronta, contudo, o Eterno Confessor. O Pentecostalismo sem Pentecostes é casuísta e cheio de modismos, entretanto é incapaz de refazer as trilhas antigas, onde os milagres seguiam os crentes. Hoje, seguem-se os sinais; a fé, no entanto, acha-se ausente, pois este pentecostalismo não tem o pentecostes e já não reconhece o Espírito. É movimento e não avança; é avivamento e está morto; é religião e está desligado de Deus.

O PENTECOSTALISMO SEM PENTECOSTES NÃO TEM O ESPÍRITO

O Pentecostalismo sem Pentecostes é carismático, apesar de extinguir o Espírito. Julga-se bíblico mesmo negando a soberania de Deus. Revela-se ortodoxo, apesar de abjurar os principais artigos de fé. Declara-se espiritual, não obstante, compactuar-se com o mundo e do mundo fazer-se amigo. O Pentecostalismo sem Pentecostes é tudo, menos pentecostal; jamais é encontrado no cenáculo.

O Pentecostalismo sem Pentecostes não é movimento; é um monumento do que éramos, e já não o somos. Jazendo como mausoléu, tem ele a aparência de uma tumba que, toda caiada por fora, por dentro acha-se contaminada com a ossada seca dos que se recusaram a viver de avivamento em avivamento.

OS PERIGOS DO PENTECOSTALISMO SEM PENTECOSTES

Do batismo, este oponente tira o fogo. Das estranhas línguas, a variedade e a interpretação. Das profecias, a genuinidade da voz divina. Do conhecimento, a revelação. Da palavra da sabedoria, a orientação dos céus. Do discernimento de espíritos, a distinção de manifestações. Das curas divinas, a própria saúde da alma. Das maravilhas, suas feições sobrenaturais. Da fé, consegue tirar suas conquistas. Tão perigoso é o Pentecostalismo sem Pentecostes que só falta tirar o Cristo do Cristianismo. Mas, em algumas igrejas, já expulsou tanto o Cristo quanto o Cristianismo. Até o Espírito extinguiu.

ONDE NASCEU O PENTECOSTALISMO SEM PENTECOSTES

Não sabemos determinar-lhe a gênese. De uma coisa, porém, estamos certos: não foi na manjedoura. Talvez, em Laodiceia: a mornidão espiritual é uma de suas principais características. Ou, quem sabe, em Éfeso? Do Pentecostalismo sem Pentecostes, podemos dizer: O primeiro amor morreu; o segundo amor morreu; o terceiro, também. Restaram-lhe apenas fósseis.

A paródia não é perfeita. Revela, entretanto, uma aflitiva realidade. No Pentecostalismo sem Pentecostes, o amor desmaia nos braços do formalismo; falece no regaço do denominacionalismo. Morre o amor às almas. Morre o amor às missões. Morre o amor às obras sociais. Morre até o amor ao amor. Só não morre o amor ao comodismo. Este renasce todos os dias. Na liturgia fria, renasce. No abafar das profecias, revive. Na mumificação da fé apostólica, renasce. Na hipocrisia religiosa, não para de renascer e há de renascer em mentiras e escândalos, falsidades e tropeços.

O PENTECOSTALISMO SEM PENTECOSTES NÃO É INVENCÍVEL

Embora seja o Pentecostalismo sem Pentecostes um inimigo implacável, não é invencível. Desde o início, tem lançado variados ataques contra o movimento do Espírito, mas em vão. O Pentecostes tem renascido em todos os continentes. Até agora, ainda não tivemos um único século sem avivamentos. Em suas respectivas épocas, Tertuliano e João Crisóstomo foram testemunhas de autênticos pentecostes. Martinho Lutero e John Wesley viveram sob o poder do alto. Neste século, temos a impressão de que há um cenáculo em cada continente. O que dizer de Daniel Berg e Gunnar Vingren?

O pentecostalismo que proclamavam não tinha apenas o pentecostes; possuía o Espírito. Eis porque, já decorridas todas essas décadas, continua tão pujante quanto àqueles começos. Todavia, não podemos ignorar o inviso inimigo que é o Pentecostalismo sem Pentecostes.

A RESPONSABILIDADE DOS PENTECOSTAIS

Nós, os pentecostais, não podemos deixar que o Pentecostalismo sem Pentecostes destrua-nos as bases do movimento. Temos de lutar amorosa e sacrificialmente contra esse adversário manhoso e eivado de sagacidade. Caso contrário, passaremos à história como um avivamento a mais. Creio não ser este o nosso destino. O pentecostalismo no Brasil nasceu pentecostal, continua pentecostal e prosseguirá pentecostal.

No entanto, só continuaremos genuinamente pentecostais se reavivarmos nosso amor pelas almas perdidas. Ao contrário do que muitos pensam, a principal característica do pentecostalismo não são os dons espirituais. A principal característica do pentecostalismo irresistivelmente pentecostal é o amor à obra missionária. Eis o texto áureo do livro de Atos: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra” (1.8).

CONCLUSÃO

Só pode haver abundância de dons, quando a Igreja evangeliza e se lança às missões. Permaneça inativa e ficará paupérrima. É assim que nasce o Pentecostalismo sem Pentecostes. Nosso perigosíssimo inimigo surge da letargia espiritual e da falta de paixão pelas almas. Que o Senhor nos ajude a retornar às origens e a evangelizar enquanto é dia. O Brasil está à nossa espera; o mundo geme e pede-nos socorro. Chegou o momento de mostrarmos que o nosso pentecostalismo é autenticamente pentecostal. Aliás, não somente pentecostal, mas também missionário. Roguemos a Deus por um avivamento ainda maior.

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Pr. Claudionor de Andrade. Ministro do Santo Evangelho, o Pastor Claudionor de Andrade é Conselheiro Bíblico da Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus, a EETAD. É, também, Professor de Escola Dominical e autor de vários livros, dentre os quais a obra de referência “Dicionário Teológico”. Pregador e conferencista, roga a Deus que o ajude a falar tão somente o que convém à Sã Doutrina. E implora aos redimidos que orem por ele, porque, conforme suas palavras, “sem Jesus nada posso fazer”.