Raizes Pentecostais

Raízes Pentecostais

Por Pr. Fábio Tavares 1
Professor da EETAD e autor das Edições Bernhard Johnson

“Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2.1-4).

Nós acreditamos que qualquer cristão verdadeiramente salvo pode, atualmente, receber o batismo no Espírito Santo como uma experiência distinta da salvação, evidenciada inicialmente pelo dom de falar em línguas (At 2.1-4, 38-39; 8.14-17; 9.17-18; 10.44-47; 11.15-17; 19.1-6). Portanto, uma igreja pentecostal autêntica é caracterizada pela crença, ensino e busca do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais, objetivando cumprir a obra de Deus com maior eficácia (Lc 24.47,49; At 1.4-5,8).

Nossas raízes pentecostais estão profundamente ligadas ao relato bíblico sobre o dia de Pentecostes, narrado no segundo capítulo do livro de Atos dos Apóstolos. Enquanto alguns veem a descida do Espírito Santo nesse dia apenas como um evento sobrenatural que assinalou o início da igreja, nós, que cremos integral e literalmente nas Escrituras, percebemos o derramamento do Espírito Santo em Pentecostes como algo significativamente maior.

No Antigo Testamento, o Senhor concedeu a Moisés uma unção profética essencial para liderar Israel. Depois, essa bênção foi estendida aos setenta anciãos (Nm 11.16-29) para que pudessem auxiliá-lo na governança. Nesse contexto, o legislador de Israel disse do desejo de que todo o povo do SENHOR fosse profeta e recebesse o Espírito Santo (Nm 11.29). Esse anseio, transmitido a Josué, ecoou até ser transformado em promessa divina por meio de Joel, apontando para um cumprimento futuro (Jl 2.28-29). Na virada do Antigo para o Novo Testamento, João Batista fez a previsão de que Jesus estaria batizando os fiéis no Espírito Santo (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33).

Após sua ressurreição, Jesus confirmou a promessa anteriormente indicada, instruindo: “E eis que envio sobre vocês a promessa de meu Pai; permaneçam, contudo, na cidade de Jerusalém, até que sejam revestidos de poder do alto” (Lc 24.49). Na iminência de Sua ascensão, Ele fez questão de reiterar aos discípulos o que estava iminente: “Durante um encontro com eles, determinou que não deixassem Jerusalém, mas aguardassem a promessa do Pai, que, conforme mencionei, aprenderam de mim. João, de fato, batizou com água; vocês, porém, serão batizados com o Espírito Santo em breve” (At 1.4-5). Nestas passagens, Ele deixa claro que os eventos que se seguiriam corresponderiam à realização da promessa divina.

O derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes transcende um simples episódio sobrenatural isolado de relevância limitada para a igreja. Na verdade, marcou a realização de diversas promessas registradas nas Escrituras. Ao serem preenchidos pelo Espírito Santo, os discípulos “começaram a falar em outras línguas, como o Espírito os habilitava” (At 2.4). Esta manifestação de fala inspirada, indicativa da recepção da unção profética do Espírito, ecoa o incidente com os setenta anciãos que auxiliavam Moisés, ocorrido séculos antes (Nm 11.24-29).

Antes do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, ocorreram dois sinais precursores. Primeiramente, veio do céu um ruído, semelhante a um vento forte e impetuoso, que preencheu todo o ambiente onde os discípulos se encontravam (sinal audível). Após isso, observaram-se línguas como de fogo dividindo-se e pousando sobre cada um deles (sinal visível). Embora esses fenômenos não constituíssem por si a evidência do derramamento do Espírito, prepararam o cenário para o que viria a seguir: “todos foram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, conforme a capacitação concedida pelo Espírito Santo” (At 2.4). Neste contexto, a manifestação das línguas estranhas (glossolalia) serviu como o primeiro indicativo físico do recebimento da unção capacitadora do Espírito Santo, uma experiência referenciada como o batismo no Espírito Santo tanto por João Batista (Mt 3.11) quanto por Jesus (At 1.4-5) e reiterada por Pedro (At 11.15-17). Da mesma forma, esse sinal linguístico marcou o batismo no Espírito Santo na residência de Cornélio em Cesareia (At 10.44-46; 11.15-16) e em Éfeso (At 19.6), consolidando as línguas estranhas como um marcador inicial e físico dessa investidura espiritual.

Durante o Pentecostes, ao testemunhar os sinais audível, visível e especialmente o linguístico, a multidão foi tomada por espanto e admiração (At 2.6-11). Diante dessa manifestação, os presentes, confusos e maravilhados, questionavam entre si: “O que quer dizer isso?” (At 2.12, NAA), buscando um entendimento sobre as estranhas línguas ouvidas. Neste momento, Pedro, acompanhado dos outros onze apóstolos, toma a iniciativa. Ao erguer sua voz, dirige-se aos presentes, elucidando que o batismo no Espírito Santo, marcado pela evidência inicial da glossolalia, cumpria precisamente o que havia sido profetizado por Joel: “E nos últimos dias, acontecerá, diz Deus, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; os seus filhos e as suas filhas profetizarão, os jovens terão visões e os anciãos sonharão sonhos; sobre meus servos e minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias e profetizarão” (At 2.17-18). Através desta poderosa interpelação, Pedro não só explica a origem divina daquela experiência transcendental, como, também, a vincula diretamente à promessa divulgada séculos antes pelo profeta Joel, reafirmando a continuidade do plano de Deus através das eras.

Na sua explicação sobre as línguas estranhas como evidência do batismo no Espírito Santo, Pedro não mencionou as profecias de Isaías (Is 44.3) e Ezequiel (Ez 36.25-27; 39.29) que abordam a ação redentora e assistencial plena do Espírito Santo que seria desdobrada no Novo Testamento, temas amplamente explicados pelos apóstolos João e Paulo. Pelo contrário, Pedro foi levado pelo Senhor a citar a profecia de Joel (Jl 2.28-29) da manifestação abundante do Espírito Santo – sempre tão característico daquilo que Deus inspirou Lucas a registrar nos Atos.

A explanação da profecia de Joel por Pedro esclarece, especialmente pelo uso da expressão “e profetizarão” para o texto de Joel 2.29, que as línguas estranhas têm a ver, também, com mensagens proféticas vindas da parte do Espírito aos homens por meio dos arautos de Deus. Logo, o falar em línguas estranhas (At 2.4) é algo diferente de profetizar, ambas as manifestações espirituais são distintas.

Duas doutrinas bíblicas pneumatológicas importantes são a “doutrina da distinção” e a “doutrina da evidência inicial”. A primeira afirma que o batismo no Espírito Santo é uma experiência separada da salvação, enquanto a segunda enfatiza que as línguas estranhas (glossolalia) são a manifestação inicial física do batismo no Espírito Santo. Essas doutrinas bíblicas fundamentais são essenciais porque descrevem duas experienciadas recorrentes na Igreja. Quando alguém se converte em um ambiente genuinamente pentecostal, logo é encorajado a buscar o batismo no Espírito Santo evidenciado pelas línguas estranhas. Este é o padrão demonstrado pela Bíblia (Lc 24.49; At 1.4-5,8; 2.38-39; 8.14-17; 19.1-6), e prática pelos pioneiros do movimento Pentecostal. E nós sabemos, pela Bíblia, que os crentes contemporâneos podem experimentar as mesmas manifestações espirituais vividas pelos primeiros cristãos na igreja apostólica.

Além de ter impacto histórico, o derramamento do Espírito Santo no Pentecostes também tem implicações futuras. Ele se tornou um evento paradigmático, um modelo e exemplo para a igreja no Novo Testamento. Por esse motivo, o livro de Atos dos Apóstolos narra cinco episódios de batismo no Espírito Santo, destacando em três deles a glossolalia como evidência física inicial da concessão dessa unção capacitadora do Espírito Santo (At 2.1-4, 8.14-17; 9.17-18; 10.44-47; 11.15-17; 19.1-6). As epístolas paulinas também testemunham sobre a unção carismática do Espírito Santo, que batiza os crentes e lhes concede dons espirituais, evento corriqueiras nos dias apostólicos (1Co 12.1-11,28-31; 14.1-40; Gl 3.5; 1Ts 5.19-21).

O Movimento Pentecostal moderno, que surgiu no início do século XX pregando a restauração doutrinária da ação do Espírito Santo. Milhões de crentes ao redor do mundo têm vivido o batismo no Espírito Santo e, por isso, falado em línguas estranhas e recebido os dons espirituais. Ao receberem esta unção capacitadora, os pentecostais têm testemunhado de Cristo com poder e eficácia, resultando na conversão de muitas pessoas para o Reino de Deus e na edificação da igreja.

Cabe a nós pentecostais conservar, ensinar e viver o batismo no Espírito Santo, pois não herdamos isso de nossos pioneiros, mas nós e eles encontramos este testemunho na Bíblia Sagrada. Devemos fortalecer nossas raízes pentecostais fincadas na palavra de Deus e buscarmos viver cotidianamente as experiências decorrentes do Pentecostes. Caso contrário, nos tornaremos uma igreja pentecostal sem Pentecostes.

  1. O professor Fábio Henrique Tavares de Oliveira é Engenheiro Agrônomo e Bacharel em Teologia, com Mestrado e Doutorado em Solos e Nutrição de Plantas, e atua como Professor Titular da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e do Centro de Estudos Teológicos da Assembleia de Deus em Mossoró-RN (CETADEM). É Ministro do Evangelho e membro da Diretoria da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Mossoró-RN e do Conselho de Doutrina da Convenção Estadual de Ministros da Assembleia de Deus no Estado do Rio Grande do Norte (CEMADERN), e filiado à UMADENE e CGADB. Autor de diversos livros, incluindo “Qualificações e pré-requisitos para Pastores, Prebíteros e Diáconos”, publicado por Edições Bernhard Johnson. ↩︎

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