Raizes Pentecostais

Prof. Bruno William 1
Editor da revista Raízes Pentecostais e Professor da EETAD

Li em um muro uma pichação que dizia “Jesus é a resposta” e logo abaixo outra pessoa pichou “Qual a pergunta?” E isso é pertinente, pois queremos mostrar a solução, sem antes apontar o problema a ser sanado. Estamos vivendo uma falha congênita de expressões que não são explicadas, e respostas a perguntas que não existem. São tempos líquidos, como disse Zygmunt Bauman. Esse fenômeno acontece porque perdemos as raízes e, sem elas, perdemos a razão.

Essa é uma característica definidora da cultura pós-moderna, que é desumana, incluindo abortos e outras formas de assassinato, imoralidade sexual e diversas atrocidades. A igreja de Corinto abrigava um caso de imoralidade no qual um membro coabitava com a esposa de seu pai! Paulo condena essa tolerância como um pecado maior do que o próprio ato imoral (1Co 5.1-13). Embora frequentassem a igreja, é certíssimo que essas pessoas não conheciam a Cristo. E, para piorar, os crentes de Corinto orgulhavam-se de sua complacência (1Co 5.2). Eles interpretavam muito mal a liberdade que Cristo nos concede, tornando-a um passaporte à libertinagem, posto que Cristo a tudo perdoa.

Em Tiago 1.12 somos advertidos de que sermos julgados pela “lei da liberdade”, a liberdade que Cristo concede não é bandalheira, mas uma libertação da condenação da Lei e do jugo do pecado, permitindo que o crente sirva a Deus com um espírito voluntário e em obediência alegre. A liberdade cristã não significa uma isenção dos princípios éticos da Lei, mas uma relação transformada com ela: o crente não está mais sob sua maldição, mas cumpre sua justiça ao andar segundo o Espírito. Ela não é um jugo de escravidão, mas uma expressão da nova vida em Cristo, vivida em obediência amorosa e dependente do Espírito.

A CULTURA DO “EU” E DO “AGORA”

A cultura contemporânea, frequentemente resumida em frases como “Só se vive uma vez, viva como quiser”, “carpe diem” e outras, promove um estilo de vida centrado no individualismo e na autoindulgência. Essa mentalidade, amplamente difundida pela publicidade, enfatiza o “eu” e o “agora”, incentivando a busca imediata por satisfação e prazer, muitas vezes em detrimento dos valores duradouros. Essa busca incessante por gratificação pessoal se manifesta no consumismo desenfreado, no aumento da dívida com cartões de crédito e na crença de que a vida se resume aos prazeres e necessidades imediatas.

A reverência à consciência individual como uma “semi-deidade inviolável” é outro sintoma dessa cultura. Essa visão, que eleva o desejo e a vontade pessoal acima de tudo, se infiltra até mesmo na igreja, onde a adoração a Deus é substituída pela adoração à autoestima e às necessidades pessoais. Deus passa a ser visto como um meio para se sentir melhor consigo mesmo, em vez de ser o centro da fé e da devoção. Deus é então rebaixado de o Soberano e Onipotente para uma espécie de analgésico cósmico que se toma para sentir-se melhor. Enquanto a cultura do “eu” promove a liberdade como permissividade para satisfazer todos os desejos, a Palavra de Deus ensina que a verdadeira liberdade está em viver livre da escravidão do pecado e em se submeter à vontade de Deus. A liberdade cristã não é uma licença para fazer o que se quer, mas sim a capacidade de viver conforme os princípios divinos.

A igreja de Corinto enfrentava problemas semelhantes de individualismo e egocentrismo, como evidenciado pelas divisões e pelo comportamento imoral de alguns de seus membros. Alguns coríntios se orgulhavam de sua “sabedoria” e de sua “liberdade”, usando-as como justificativa para ignorar as necessidades e os sentimentos dos outros. Paulo repreende esses comportamentos, enfatizando que o conhecimento e a liberdade não podem ser usados como pretexto para pecar e para prejudicar os outros. A verdadeira sabedoria e liberdade cristã se manifestam no amor, na humildade e na preocupação com o bem-estar do próximo. Ele também argumenta que é preciso ter renúncia pessoal, limitando a própria liberdade para não ofender as convicções de outros cristãos. Em vez de se concentrar em si e em seus próprios prazeres, os cristãos são chamados a amar a Deus e ao próximo como a si. Esse amor se manifesta no serviço, na renúncia pessoal e na busca pela edificação do corpo de Cristo. A cultura do individualismo e da autoindulgência, com seu foco no “eu” e no “agora”, contrasta fortemente com os princípios cristãos de renúncia, amor ao próximo e esperança eterna. Ao abraçarmos os valores do Reino de Deus, podemos experimentar a verdadeira liberdade e viver uma vida que glorifica a Deus e beneficia a humanidade. Isso é reflexo da falta de entendimento do perigo que é o pecado.

A Origem do Pecado não é divina! 

Uma coisa muito importante ao estudarmos a hamartiologia é assumir que ninguém está em situação neutra. Todos estamos envolvidos com o pecado, independentemente de nossa opinião. Ao estudar o pecado, não estamos na mesma situação de um médico ao discorrer sobre um diagnóstico de uma doença que não tem, mas só está explicando. Estamos todos na mesma situação, todos estamos passando pelo mesmo mal. Deus não é o autor do pecado, muito menos ele provocou sua causa inicial. Essas premissas são de suma importância. A Bíblia nega veementemente que Deus é o autor do pecado ou provocou/induziu o homem a pecar. Em Isaías 6.1-5 o profeta viu o Senhor em sua glória, sua primeira reação foi reconhecer o seu próprio pecado. Provérbios 6.16-19 nos diz que Deus chama o pecado de abominação. Se Deus rejeita o pecado, como é possível supor que Ele o criou? 

O pecado não é eterno 

 O gnosticismo é uma das primeiras heresias dualistas. Ele prega que a matéria é má, por isso era impossível acreditar em Jesus encarnado. Essa doutrina é errônea, nega que Cristo é verdadeiro homem, verdadeiro Deus. Uma blasfêmia! Mas a heresia não consiste somente em negar a humanidade de Jesus, mas em crer que exista algo independente de Deus e de sua vontade. Outra razão é que isso nos transforma em marionetes de Deus na luta contra o pecado. O estudo sobre o pecado revela nossa realidade, a qual nos afasta de Deus. Mas existe solução, olhar para o cordeiro de Deus!

A vida abundante em Cristo sana lacunas que nem imaginávamos que poderiam ser preenchidas. Por isso, a vida abundante é uma promessa que começa e termina em Jesus, pois só mediante um relacionamento pessoal com Ele é possível desfrutar dessa vida. E isso nos leva a algumas questões: O que é viver ao máximo? O que é uma vida bem vivida? Será que viver ao máximo é o mesmo para nós ou para uma miserável aldeã vietnamita? ou para um adolescente na China comunista? ou para um daliti, etnia considerada pelos indianos como a escória humana? 

Não precisamos ir longe como os exemplos anteriores para encontrar realidades diferentes das nossas. Basta olhar para algumas regiões abandonadas de nosso país onde as gentes nunca considerariam internet importante, pois o que lhes falta é comida para manter vivos os filhos. Carregar uma bateria de celular não lhes é relevante, pois aquilo de que necessitam é da água racionada que chega sem previsão, trazida de um carro pipa que tem acesso ao açude que lhe é vetado. Cercados de conforto, será que realmente sabemos o que significa viver? Veja o que o apóstolo Paulo diz:

Aguardo ansiosamente e espero que em nada serei envergonhado. Pelo contrário, com toda a determinação de sempre, também agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida quer pela morte; porque para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Caso continue vivendo no corpo, terei fruto do meu trabalho. E já não sei o que escolher! Estou pressionado dos dois lados: desejo partir e estar com Cristo, o que é muito melhor; contudo, é mais necessário, por causa de vocês, que eu permaneça no corpo. Convencido disso, sei que vou permanecer e continuar com todos vocês, para o seu progresso e alegria na fé, a fim de que, pela minha presença, outra vez a exultação de vocês em Cristo Jesus transborde por minha causa. Não importa o que aconteça, exerçam a sua cidadania de maneira digna do evangelho de Cristo, para que assim, quer eu vá e os veja, quer apenas ouça a seu respeito em minha ausência, fique eu sabendo que vocês permanecem firmes num só espírito, lutando unânimes pela fé evangélica, sem de forma alguma deixar-se intimidar por aqueles que se opõem a vocês. Para eles isso é sinal de destruição, mas para vocês de salvação, e isso da parte de Deus; pois a vocês foi dado o privilégio de, não apenas crer em Cristo, mas também de sofrer por ele, já que estão passando pelo mesmo combate que me viram enfrentar e agora ouvem que ainda enfrento.” (Filipenses 1.20-30 – Grifo meu) 

 Viver só faz sentido se estamos em Cristo e Ele em nós!

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  1. Bruno William é comunicólogo com graduação em Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) e pós-graduado em Gestão Estratégica de Marcas (Branding), Marketing e Gestão de Negócios. Formado em Teologia pela Escola de Educação Teológica das Assembleias de Deus (EETAD), possui especialização em Teologia do Novo Testamento e é atualmente mestrando em Teologia. Atua como professor titular da EETAD e exerce a função de editor da revista Raízes Pentecostais. ↩︎