Por Pr. Kleber Maia 1
Pastor na Assembleia de Deus em Parnamirim, mestre em teologia, pregador

A visão escatológica Pré-Tribulacionista, que defende que a Igreja será arrebatada antes da Grande Tribulação, é sustentada por uma série de argumentos bíblicos e teológicos que oferecem uma perspectiva de esperança para os crentes, afirmando que a Igreja será poupada dos julgamentos divinos vindouros.
Esta perspectiva não é apenas uma especulação teológica, mas uma expressão de fé e esperança que tem moldado a espiritualidade e a ética da igreja, especialmente entre as Assembleias de Deus e outros movimentos evangélicos.
A Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma claramente: “Cremos, professamos e ensinamos que a Segunda Vinda de Cristo é um evento a ser realizado em duas fases. A primeira é o arrebatamento da igreja antes da Grande Tribulação, momento este em que ‘nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados’ (1 Ts 4.17) ”. Esta declaração, embora moderna em sua formulação sistemática, encontra suas raízes nas Escrituras e na expectativa viva da igreja primitiva.
A Expectativa da Igreja Primitiva
Quando falamos sobre a volta de Jesus e o arrebatamento da Igreja, acreditamos que isso pode ocorrer a qualquer momento, pois a Palavra de Deus ensina claramente a iminência desse evento. O Senhor instruiu os crentes a estarem sempre preparados, já que ninguém sabe o momento exato de Sua vinda (Mt 24.36-44, 50; 25.13; Mc 13.33-37; Lc 12.35-40; 21.34-36). A igreja foi, portanto, exortada a manter sua fidelidade e estar constantemente pronta para o arrebatamento.
A igreja primitiva vivia numa intensa expectativa da volta iminente de Cristo, uma esperança que permeava todas as áreas da vida comunitária e individual. Um reflexo claro dessa expectativa é a saudação “Maranata” (1 Co 16.22), uma palavra aramaica que significa “Vem, Senhor!”. Essa expressão, utilizada em uma carta escrita em grego para a igreja de Corinto, revela o quanto essa esperança estava profundamente enraizada na fé dos primeiros cristãos. “Maranata” não era apenas uma saudação, mas um constante lembrete de que a história caminhava para o clímax divino: a Segunda Vinda de Cristo.
Os cristãos não viam este evento como algo distante, mas viviam na certeza de que poderia ocorrer a qualquer momento. Essa convicção moldava sua ética, culto e testemunho. Para a igreja primitiva, o retorno de Cristo era iminente; Paulo aguardava o arrebatamento em seus próprios dias (1 Ts 4.15, 17; 2 Ts 2.1). Se não esperassem o retorno imediato, o boato de que Jesus voltaria durante a vida do apóstolo João não teria persistido (Jo 21.22-23).
A instrução de Jesus sobre a fé vigilante
O ensino de Jesus no Sermão Profético (Mateus 24 e 25) reforça essa expectativa iminente. Este sermão é referido como “a passagem profética isolada mais importante de toda a Bíblia” . Além de ter sido proferido pelo próprio Senhor, estabelece um vislumbre panorâmico das coisas futuras e, mais do que isto, exorta os discípulos a permanecerem fiéis até o final.
Em cada uma das parábolas contidas nesse discurso, Jesus exorta Seus seguidores a manterem-se vigilantes, prontos para o Seu retorno, que pode ocorrer a qualquer momento. A análise dessas parábolas mostra que não há qualquer evento posto entre a ausência do Senhor e seu retorno; Sua vinda é iminente!
Na parábola do servo fiel e prudente, Jesus descreve um senhor que coloca seu servo à frente de sua casa para cuidar dos seus outros servos. A sua responsabilidade é alimentar os outros servos na ausência do senhor. A questão crucial é como ele se comportará enquanto o senhor está ausente.
A ênfase da parábola está na necessidade de fidelidade contínua, independentemente de quando o senhor retornará. A vinda do senhor é iminente, podendo ocorrer “no dia em que ele não espera e numa hora que ele não sabe” (Mt 24.50). O servo fiel é recompensado, enquanto o servo mau é punido severamente. Jesus ensina que a espera ativa, caracterizada pela fidelidade, prontidão e esperança de recompensa, é fundamental para aqueles que aguardam Seu retorno.
A parábola das Dez Virgens é talvez uma das mais conhecidas do Sermão Profético. Cinco delas são prudentes e levam azeite extra para suas lâmpadas, enquanto as outras cinco são insensatas e não se preparam adequadamente. Quando o noivo, que representa Cristo, chega à meia-noite – um tempo inesperado – somente as virgens prudentes estão prontas para encontrá-lo e entrar com ele para as bodas.
Esta parábola sublinha a iminência do retorno de Cristo e a necessidade de estar preparado em todos os momentos. As virgens insensatas não podem compartilhar o azeite das outras, pois a prontidão espiritual contínua é pessoal e intransferível. Não há eventos que devam ocorrer antes do retorno do noivo, e as virgens devem estar sempre prontas, simbolizando a igreja que deve esperar a vinda de Cristo com expectativa e preparação constantes.
Na parábola dos talentos, um homem, prestes a viajar, confia seus bens a seus servos, distribuindo talentos de acordo com a capacidade de cada um. Após um longo tempo, o senhor retorna e pede contas dos talentos. Os servos que investiram e multiplicaram o que lhes foi dado são recompensados, enquanto o servo que enterrou o talento é castigado severamente.
A parábola ensina que a iminência da vinda de Cristo exige uma vida de serviço produtivo e fiel, acompanhada da esperança do galardão. O fato de que o senhor retorna “depois de muito tempo” (Mt 25.19) não diminui a urgência de estar preparado; pelo contrário, destaca a necessidade de aproveitar o tempo dado para realizar a obra do Reino. A iminência do retorno de Cristo é uma motivação para a fidelidade em todas as circunstâncias.
A Esperança Cristã em Tempos
de Perseguição e Sofrimento
A expectativa do retorno de Cristo não é apenas uma crença teórica, mas uma fonte de consolo e força para a igreja, especialmente durante as perseguições. Paulo encoraja os crentes a despertar, lembrando que “a nossa salvação está agora mais perto do que quando aceitamos a fé” (Rm 13.11-12). Essa esperança iminente lembrava-os de que, independentemente das dificuldades, o Senhor estava prestes a voltar, trazendo justiça e restauração. Em tempos de perseguição intensa, essa expectativa oferecia o consolo necessário para suportar as provações.
A iminência do arrebatamento leva a Igreja a esperar Jesus, com a alegria do encontro entre Cristo e Sua Noiva. Diferente de outras visões escatológicas, que focam no aparecimento do Anticristo e em sinais apocalípticos, o Novo Testamento ordena os crentes a aguardarem com esperança e expectativa a volta do Senhor, e não a manifestação do mal. A Igreja é chamada a viver com os olhos voltados para o céu, aguardando o Redentor que virá em glória, em vez de se fixar no temor das manifestações malignas.
As Escrituras estão repletas de exortações que apontam para a volta iminente de Cristo como o centro da esperança cristã. Em 1Co 1.7, Paulo elogia os crentes por aguardarem ansiosamente “a revelação de nosso Senhor Jesus Cristo”. Aos filipenses, Paulo reforça que “a nossa cidadania está nos céus, de onde esperamos o Salvador” (Fp 3.20), mostrando que a esperança cristã está firmemente ancorada no retorno de Cristo. Ele também exorta: “Perto está o Senhor” (Fp 4.5), destacando que essa proximidade deve influenciar toda a vida cristã, promovendo moderação, paciência e uma expectativa ativa.
A ordem de aguardar a volta de Cristo, em vez do Anticristo, traz também uma promessa de segurança e conforto. Em 1 Ts 1.10, Paulo elogia os crentes por esperarem “dos céus o Seu Filho”, que os livra “da ira vindoura”. Isso reforça a ideia de que a Igreja deve aguardar a Cristo, garantindo que, ao fazê-lo, será preservada da ira divina que virá nos eventos finais.
Em 1Ts 4.15-18, Paulo oferece uma das descrições mais vívidas do arrebatamento, afirmando que “nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares”. Essa esperança fortalece os crentes não pela antecipação de dificuldades, mas pelo consolo de que, na volta de Cristo, eles estarão para sempre com o Senhor. O foco, portanto, está na pessoa de Cristo e na esperança de Sua vinda, e não na chegada de qualquer figura antagônica.
O arrebatamento antes da Tribulação também sublinha a distinção entre os redimidos e os condenados. Enquanto o mundo ímpio enfrenta a justiça divina, a Igreja é levada à presença do Senhor, na qual encontra refúgio e segurança. A promessa de que “Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação” (1Ts 5.9) reforça essa visão, sustentando a esperança de que os crentes serão poupados do juízo que está por vir.
Conclusão
Hoje vivemos em uma era em que a escatologia é frequentemente marginalizada ou reinterpretada de formas que enfraquecem a urgência e a expectativa que caracterizavam a Igreja Primitiva. No entanto, as Escrituras nos chamam a redescobrir essa esperança vibrante e a lembrar que a volta de Cristo deve ser aguardada com grande expectativa e senso de urgência.
O pré-tribulacionismo, como expressão de fé e esperança, convida a Igreja a olhar para o futuro com confiança, reconhecendo que a história está nas mãos de Deus e que Cristo voltará para buscar Sua noiva antes dos juízos finais. Essa doutrina não só oferece uma visão esperançosa sobre o fim dos tempos, mas também inspira os crentes a viverem em santidade, vigilância e prontidão, conscientes de que a volta de Cristo é iminente. A igreja de hoje é desafiada a manter viva essa expectativa e a proclamar com fé: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22.20).
Quando a Iigreja perde de vista o retorno iminente de Cristo, corre o risco de cair na complacência e esquecer o propósito escatológico que dá sentido à sua existência. A expectativa do arrebatamento antes da Grande Tribulação não é apenas uma doutrina teológica, mas um chamado a viver com esperança e fé todos os dias, acreditando que o Senhor pode voltar a qualquer momento.
Para a elaboração desse artigo foram consultados os seguintes materiais que podem servir-lhe de bons auxilios bibliográficos.
– ICE, Thomas; DEMY, Timothy (orgs). Quando a Trombeta Soar: esclarecendo a controvérsia sobre os tempos finais. Porto Alegre: Actual Edições, 2015.
– RHODES, Ron. A Cronologia do Fim dos Tempos. Porto Alegre: Chamada, 2016.
– SILVA, Esequias Soares (org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
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- Carlos Kleber Maia é pastor assembleiano, casado com Dione e pai de Álvaro e Diana. Especialista em Teologia do Novo Testamento Aplicada pela Faculdade Teológica Batista do Paraná e Mestre em Teologia pelas Faculdades Batista do Paraná, com ênfase em Estudo e Ensino da Bíblia. Exerce o ministério pastoral desde 1999, em diversas congregações da AD em Natal/RN e, desde 2015, em Galinhos/RN. Foi professor na Escola de Teologia da AD em Parnamirim (ETAP) e na Escola de Teologia da AD em Natal (ESTEADEB), em diversas disciplinas de Teologia Sistemática e Teologia Bíblica. É autor dos livros Doutrina Prática, A Bíblia e o Trabalho e Depravação Total, além de diversos artigos publicados em jornais e revistas. Desde 2014 mantém um canal no YouTube (Graça e Poder), onde são publicados vídeos com variados temas da doutrina cristã. ↩︎